segunda-feira, 12 de outubro de 2020

TPP: Leituras complementares

 


Peninha conta em dicionário a história da Independência do Brasil

Cristina Maria Rosa

 

Ouviram o quê do Ipiranga? O novo livro de Eduardo Bueno, Dicionário da Independência – 200 anos em 200 verbetes, conta de maneira direta e descontraída os acontecimentos em torno do processo de separação entre Brasil e Portugal[1].

O lançamento do volume está previsto para o dia 15 de setembro, mas já é possível comprá-lo em pré-venda até o dia 14 pelo site da Editora Piu.   Originalmente, o projeto do jornalista era realizar um dicionário com verbetes sobre o descobrimento do Brasil. Porém, em 2018, foi anunciado o Prêmio de Incentivo à Publicação Literária - 200 Anos de Independência, promovido pelo então Ministério da Cultura (hoje uma secretaria). Peninha, como Bueno é conhecido, decidiu adaptar o formato para verbetes abordando a Independência do país – episódio que completa 200 anos em 2022 – e foi contemplado pelo edital. 

Como a Editora Piu — cuja proprietária é a sua esposa, Paula Taitelbaum, responsável pelas ilustrações do dicionário – tem como base o público infantojuvenil, o projeto se direcionou para essa faixa etária. Porém, o jornalista destaca que o público do livro pode ser mais amplo:

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– Sempre quis fazer um livro para crianças de 8 a 88 anos. Embora seja um livro infantojuvenil, pega outro público também.

Peninha virou um fenômeno editorial com seus livros sobre a história do Brasil – em especial, sobre o período colonial. Em 2017, lançou no  YouTube o canal Buenas Ideias, em que apresenta fatos históricos "através de um ponto de vista divertido, que marca a genialidade e humildade do autor", como diz na descrição. Ele também levaria a história do Brasil para os palcos com o espetáculo stand-up Não Vai Cair no Enem – Uma Peça

Natural de Porto Alegre, Peninha passou uma parte da infância em São Paulo. Ele lembra de visitar o riacho do Ipiranga (às margens do qual Dom Pedro I proclamou a Independência, em 7 de setembro de 1822) e o Museu do Ipiranga em passeios escolares. Foi nessa época que uma curiosidade se instaurou nele. 

– Entrei numa trip não só de gostar de história, mas de vincular a história ao lugar onde ela se passa. Já pequeno, eu ficava pensando por que o riacho era tão podre. Eu me perguntava se já era assim na época da Independência (risos) – recorda.

Continuidade ou morte

Em Dicionário da Independência, Peninha traz informações e curiosidades em tom bem-humorado a respeito do Grito do Ipiranga. Entre os verbetes que vão de "Abdicação" até "Zodíaco", passando por alguns inusitados como "Diarreia" e "Demonão", ele apresenta personagens e fatos em textos curtos e didáticos sobre o antes e o depois da Independência.

– É uma forma divertida de tu contar a história. Pode se abordar desse jeito Peninha e debochar, mas, cara, é uma proposta de reflexão – ressalta o autor.

O dicionário joga luz na participação feminina na Independência: "D. Leopoldina assinou o decreto de Independência. Maria Quitéria lutou vestida de homem. Madre Joana Angélica morreu defendendo seu convento dos portugueses. E Maria Felipa teria liderado um grupo de marisqueiras que lutou em Itaparica", descreve o verbete "Mulheres".

– Um dos objetivos do livro era deixar claro o quanto as mulheres tiveram uma participação decisiva nessa história – destaca Bueno.

Segundo o jornalista, o propósito principal do dicionário vai ao encontro de algo que ele costuma repetir: a Independência foi mais uma das ocasiões em que o Brasil mudou para continuar igual.  

No livro, ele aponta que país ficou independente, mas não só se manteve uma monarquia (ao contrário dos países vizinhos,  ex-colônias espanholas que optaram pela república), como também permaneceu sob o comando de um soberano português. Além disso, o país independente preferiu não abolir a escravidão. 

– A Independência do Brasil foi mais uma vez uma articulação da bancada ruralista (risos).  Foi uma articulação de grandes proprietários, de grandes latifundiários, para que se mantivesse a escravidão. Dom Pedro I nunca mexeu uma palha para acabar com a escravidão – pontua.

E o papel do povo na Independência do Brasil?

– Olha, nenhum. Foi uma articulação de elite. Quando houve batalhas contra os portugueses após o Grito do Ipiranga, o povo teve uma participação heroica, com sangue. Mas esse povo que lutou não recebeu nada.  A ordem social se manteve intacta: exclusivista e estratificada. 

No verbete "Independência", Peninha conclui: "Como quer que seja, uma coisa é certa: só é realmente livre o povo que conhece – e por isso constrói – a própria história".

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