sexta-feira, 20 de agosto de 2021

14º Jogo do Livro: 1 a 26 de novembro

 


14º JOGO DO LIVRO E 4º SEMINÁRIO INTERNACIONAL LATINO AMERICANO - Literaturas materialidades acessos


O 14º Jogo do Livro e 4º Seminário Latino-Americano: Literaturas, materialidades, acessos será realizado integralmente no modo online, por intermédio de atividades assíncronas e síncronas, que acontecerão em dois momentos: de 1 a 19 de novembro, atividades assíncronas, e de 24 a 26 de novembro, atividades síncronas.

O Jogo do Livro é um encontro bianual de trabalho e de intercâmbio de experiências, promovido pelo Grupo de Pesquisa do Letramento Literário, que integra as ações do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (Gpell-Ceale-FaE/UFMG). Ao longo dos seus mais de vinte anos de existência, o Gpell consolidou-se como um espaço de discussão e divulgação de pesquisas sobre o letramento literário entre professores da educação básica, professores e alunos da graduação e pós-graduação.

Desde 1995, o evento Jogo do Livro vem tratando, em cada uma de suas edições, das práticas de leitura de leitores-alunos e leitores-professores, tendo em vista discussões sobre a produção literária em suas variadas formas de expressão para crianças e jovens. O centro de suas discussões são os sentidos do letramento literário a partir de reflexões sobre meios de apropriação e uso de expressões literárias dentro e fora de contextos escolares.

Em 2021, com o tema Literaturas, materialidades, acessos, a 14ª edição do evento abordará diversas formas de manifestação e de acesso a expressões literárias, seja por intermédio do texto escrito, do texto oral, ou do entrecruzamento multimodal de linguagens das mídias tecnológicas contemporâneas. O evento está organizado a partir de três “trilhas” que compõem os eixos temáticos do XIV Jogo do Livro: “Enunciações periféricas”, “Poéticas de campos & cidades: a diversidade n(d)as trilhas”, “A barriguda e o baobá: o mundo narrado ao pé da árvore”.

As inscrições para apresentação de trabalhos no 14º Jogo do Livro e 4º Seminário Internacional Latino Americano: Literaturas, materialidades poderão ser feitas de 17 de agosto a 12 de setembro de 2021. A apresentação de trabalhos (relatos de pesquisa ou relatos experiência) será feita totalmente online, de modo assíncrono, por intermédio de áudios ou vídeos, que serão previamente gravados pelos participantes conforme orientações disponíveis em https://docs.google.com/document/d/1EyyAy8RH117qapJ6hWDQ2dShYtXtYdMx/edit .

Os interessados deverão submeter resumo do trabalho a ser apresentado em [...]. Os resumos deverão ser inscritos em uma das três “trilhas” que compõem os eixos temáticos do evento: “A barriguda e o baobá: o mundo narrado ao pé da árvore”, “Enunciações periféricas” e “Poéticas de campos & cidades: a diversidade n(d)as trilhas”.

1) A barriguda e o baobá: o mundo narrado ao pé da árvore
A história do Brasil e da América Latina revela expressões artístico-culturais inscritas em uma tessitura de variados intercâmbios, no encontro de distintas vozes. Historicamente, muitas dessas vozes, especialmente indígenas e afrodescendentes, têm sido silenciadas e apagadas por processos colonizadores diversos propagadores de exclusões e preconceitos. Pretende-se nesta trilha abordar expressões poéticas indígenas e afrodescendentes que, frequentemente, resistem às margens das culturas escritas e se manifestam principalmente por intermédio de expressões orais. O enfoque em artes verbais indígenas e afrodescendentes, no Brasil e na América Latina, representa a possibilidade de visibilização de vozes historicamente silenciadas e configura-se como um convite desafiador à abordagem de questões variadas: Como se constituem relações transculturais em países latino-americanos, que possuem histórias que se aproximam, mas que, ao mesmo tempo, apresentam-se de modos distintos? O que descobrimos por intermédio dos acervos de artes verbais indígenas e afrodescendentes permeados pela diversidade de epistemologias e de encontros transculturais? Como vozes indígenas e afrodescendentes resistem e se expressam no Brasil e na América Latina?

2) Enunciações periféricas
Esta trilha atende à temática geral do Jogo do Livro 2021, Literaturas, materialidades, acessos, na medida em que se propõe a explorar o lugar de quem produz, o lugar da produção e o lugar das materialidades no contexto geral das linhas de força que organizam o campo literário, dentro da diversidade/desigualdade social. Assim, pressupõem-se todos e tudo que demarque um lugar do fazer literário: são os autores que escrevem e ilustram, editores que produzem, mídias que determinam um modo de organização, a materialidade que orienta um olhar de apresentação, leitores que têm muito a dizer. A proposta está estruturada em três dimensões que comporão a trilha “Enunciações periféricas”: fluxos semióticos, fluxos materiais, fluxos sociais. Compreende-se que estas dimensões estão incorporadas e relacionadas entre si, de forma a cumprir seu papel social no campo da experiência literária.

3) Poéticas de campos & cidades: a diversidade n(d)as trilhas
Autoria diversa, múltiplas poéticas e suas recepções. Circulação vária, independente, marginal, periférica e hegemônica. Suportes plurais, a voz, o livro, a canção, o vídeo, as mídias sociais e as novas mídias. As literaturas com e sem adjetivos. A escolarização das literaturas africana, afro-brasileira e indígena.

INSCRIÇÕES ABERTAS ATÉ O DIA 12 DE SETEMBRO DE 2021 ÀS 23:55

Pedimos também que se inscreva no nosso canal de youtube, vinculado ao nosso e-mail: jogodolivro2021@gmail.com

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Patrimônio Imaterial: Pelotas e a Sala de Leitura...

 



Um final de semana para a cultura imaterial...

Cristina Maria Rosa

A cidade de Pelotas, através da Secretaria Municipal de Cultura, solicitou minha contribuição para a Semana do Patrimônio. Nosso trabalho na UFPel é considerado Patrimônio Imaterial. Por isso, autorizei a publicação do link de meu Blog (https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/), e de mais dois Blogs que coordeno: o do PET Educação (http://peteducacao.blogspot.com/)e o da Sala de Leitura Erico Verissimo (http://saladeleituraericoverissimoufpel.blogspot.com/).

Além disso, enviei a eles dois programas de áudio que foram ao ar em 2020 e continuam disponíveis. É o programa Minutos Literários (https://soundcloud.com/minutosliterarios) e Primeiras Páginas (https://soundcloud.com/primeiraspaginas).

Aqui, o programa completo para deleite e participação: https://pt-br.facebook.com/DiadoPatrimonioPelotas/photos/pb.171852529651546.-2207520000../1912527018917413/?type=3&theater

Mais em: @DiadoPatrimonioPelotas



quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Grupo de estudos em Leitura Literária

 


GELL: avaliando 2020

Cristina Maria Rosa

 

O GELL, grupo de estudos em leitura literária que lidero na FaE/UFPel desde 2006, atuou, em 2020, em diferentes frentes. Impossibilitados de nos reunirmos presencialmente, encontramos modos de ser e estar a distância.

Assim, conversamos sobre literatura de forma online e, nas trocas de informações literárias via Watts App, enviamos e recebemos dicas, sugestões, títulos de livros, nomes de autores e textos relevantes. Também participamos de lives e demos entrevistas a jornais e – fizemos muito – escrevemos matérias para publicar em nosso blog. Clique aqui para ler: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/ e http://saladeleituraericoverissimoufpel.blogspot.com/

Outros professores

Em 2020, conhecemos o trabalho literário de quem iniciou como docente em casa ou nas redes: o Leonardo, a Ieda, a Pâmela, a Joseane e a Jéssica. E vimos quem já trabalhava se reinventar, como a Estefânia e a Cristina, Erica, Antônio Maurício, Cátia, Daniela, Carla, Ellem, Carmen, Cristiane, Isabel, Sibele. Se quiseres conhecer o que estou relatando, clique em: https://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2020/06/15/pet-educacao-investiga-trabalho-remoto-de-professores/ e https://ccs2.ufpel.edu.br/wp/2020/06/30/pet-educacao-entrevista-docentes-em-trabalho-remoto/.

Foi um ano interessante e desafiador. Mas percebemos que nós, professores, não nos eximimos de responder pelos nosso alunos. Adorei ver isso acontecer em todos os lugares!

Programas de Áudio

Uma das ações mais criativas que pudemos desenvolver neste ano que recém se encerrou foram dois programas de áudio compartilhados em plataformas digitais. Nascido com o intuito de nos comunicarmos com os idosos da UNAPI, primeiro inventamos o “Primeiras Páginas”, um programa de leituras de trechos de livros convidando-os a ler o texto de forma integral. Se quiseres ouvir alguns dos áudios, clique em: https://soundcloud.com/primeiraspaginas.

Outro programa inventado foi o “Minutos Literários”. Ele foi direcionado a crianças que, em casa, tinham poucas oportunidades de ouvirem novas histórias (narrativas e poemas, lendas e contos). Le pode ser acessado em: https://soundcloud.com/primeiraspaginas

O GELL e o GPELL

Um grupo de pesquisa vive de contatos, produtos, estudos, atividades.

Entre os contatos que fizemos em 2020, o mais intenso foi com o GPELL – Grupo de Estudos do Letramento Literário da FaE/UFMG. Criado por Graça Paulino há quase quarenta anos atrás, ele se organiza em reuniões quinzenais e tem como pauta desde estudos de teses e dissertações como políticas públicas, atividades e lives sobre o tema. Algumas dessas reuniões resultaram em publicações como em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2020/11/graca-nao-veio-ao-mundo-passeio.html, http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2020/10/sapos-e-bodes-no-apartamento.html e http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2020/11/literatura-enquanto-construcao.html

Um tributo...

O GELL, em 2020, criou e deu curso a um Tributo à Graça Paulino. É uma memória que está sendo publicada entre 04/08/2020 m(dia em que sua morte completou um ano) e 04/08/2021. Para conhecer o projeto, clique em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2020/08/um-ano-sem-graca-tributo.html

Ler o que faz bem para a alma?

 


Liberdade de escolha: quem garante?Cristina Maria Rosa

 

Dialogando com meus alunos leitores da UNAPI – Universidade Aberta a Pessoas Idosas da UFPel, neste dia do leitor, travamos um interessante diálogo a respeito do que são “as melhores” leituras, livros autores, e quem teria o saber/poder de decisão/orientação.

Cientes de que há agentes – pais, professores, escritores, leitores, pesquisadores, sábios – a indicar e conduzir os demais e que “não basta ler qualquer coisa”, concordamos que a qualidade da leitura que fazemos “depende de quem nos orienta”. Entre nós circulou, também, a ideia de que “as escolhas dos orientadores deveriam ser baseadas na qualidade e não na origem do escritor”, pois há obras estrangeiros que são descartadas apenas por não terem sido escritas na língua pátria.

Na maioria das vezes o que ocorre? Pergunta uma de minhas interlocutoras. E ela mesmo responde, já argumentando: “Os jovens detestam o que têm obrigação de ler!”

Querendo saber se os professores são orientados quanto a isso, a pergunta tocou para mim. Não me furtei.

Os professores...

Não conheço a orientação que é dada aos futuros professores nas Licenciaturas em Letras. Mas sei que, nas instituições em que se estuda Literatura Brasileira, se ensina o que é considerado clássico brasileiro. Machado de Assis em diante...

Nas minhas aulas na Licenciatura em Pedagogia, como a literatura escrita para crianças tem origem em culturas europeias, o clássico vem "de fora", exigindo que tenhamos mais amplitude ao tratar o que é o cânone. Consequentemente, menos preconceito em reconhecer que literatura, desde que de qualidade, não importa a origem...

Eu pergunto: no Brasil, temos bons escritores? Quem pode responder? Quem leu tudo o que foi produzido no mundo e pode atestar que a nossa literatura é boa?

É por isso, por não conseguir, em uma vida, ler tudo o que já foi escrito que nós, reles mortais, precisamos de ajuda. E o que é ajuda? Ajuda são obras escritas por renomados leitores que indicam...

Exemplo: Uma rede de casas encantadas, de Ana Maria Machado, a reunião de melhores contos, poemas, fábulas de um país como Os 100 melhores contos de humor da literatura universal, organizado por Flávio Moreira da Costa, o livro Por que ler os clássicos, de Italo Calvino, Contos e Poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades, de Harold Bloom, Como e por que ler os clássicos universais desde cedo, de Ana Maria Machado, entre outros.

O que é o melhor e para quem?

Essa pergunta, vinda de outro de meus interlocutores, põe em xeque o cânone ou o que especialistas indicam como cânone. Afinal, quem tem a prerrogativa de decidir o que realmente devo ler?

Ao pensar em responder, lembrei-me de uma reportagem que li a respeito dos livros indicados ao vestibular. Nela, um “especialista” dizia que bom mesmo é aquilo que gosto. Pensei um pouco mais e recordei de filósofo brasileiro, vivo, que diz que nosso tempo é curto, então, não devemos perder tempo lendo o que não é bom. Eu gosto dessa ideia: ler só o que é bom. Mas como saber, antes de abrir um livro?

Na Universidade, um de meus trabalhos mais intensos é na formação de novos leitores. Então, o gostar de ler, às vezes, se sobrepõe ao "o que ler". Quando o diálogo é com leitores maduros, "o papo" é outro e podemos explorar mais os critérios do que é considerado bom...

O que observo, mesmo entre pares, é que a maioria não sabe o que é "formar um leitor". Isso não é um demérito. Mas deve ser um desafio.

Alfabetizar literariamente é parte de um processo delicado, e poucos, realmente, conseguem ter êxito quando se propõem.

Fim de papo...

Ao fim de nosso diálogo, um de meus interlocurtores, escreveu:


Penso que a literatura tem suas nuances para cada pessoa. No meu caso, nunca tive vontade de ler Biografias, mas ganhei a do Getúlio Vargas e gostei. Fui buscar em livros guardados e encontrei a sequência com outro autor e estou lendo. Devemos estar abertos para todas as possibilidades e leituras que deem satisfação, independente da critica ou opinião de A ou B. Penso que os jovens não podem se tornar leitores só quando vão fazer vestibular, tem que começar muito antes...

 

 

Esse tempo, o “antes de ser adulto”, é realmente importante na formação de leitores. Alguns pensam que “as pessoas têm que ler o que faz bem para as suas almas” e que “deveria ser um direito constitucional” o acesso ao prazer da leitura.

Mas, como considerou um de nós, para encerrar o papo: “Quando tu estás estudando para o vestibular, nem alma tu tens!”.

Aprendendo a gostar de ler

 


Gostar de ler: na escola e em casa...

Cristina Maria Rosa

 

É possível ensinar a gostar de ler? Há um método para ensinar a gostar de ler? Para a estudante de Pedagogia Joseane Camargo Zorzoli que organizou um espaço em sua casa para receber crianças em tempos de pandemia, sim, há um método.

Apaixonada por literatura Joseane, a “Profe Josy” criou essa alternativa a pedido de pais que, precisando se manter no trabalho durante a pandemia, não tinham com quem deixar seus pequenos.

Na “escolinha inventada", Joseane apresenta aos pequenos a literatura através de livros, leituras, imagens. E os convida a brincar, que criança também gosta de...



Métodos...

Os métodos para ensinar a gostar de ler são aprendidos pela estudante na Licenciatura em Pedagogia. Lá, entre professores que leem e ensinam o que é um livro de qualidade, Joseane aprimorou seu gosto e passou a adquirir um acervo para sustentar literariamente seu projeto.

Um Pedagogo é um “mediador”.

Um indivíduo que estende pontes entre quem deseja saber e o que já se sabe. Mas pode criar “pontes outras”, pois sempre queremos saber mais.


Joseane estende livros...

Para herdarem os saberes que ela já possui, as crianças são convidadas a admirar o que há nos livros que ela apresenta.

E é assim que, dia após dia, sua inicial sala de brincadeiras e leitura está se tornando plena de literatura. E brincadeiras...

No dia do leitor, Joseane mandou imagens dos pequenos que mantém sob sua orientação pedagógica. Ela sabe que processos espontâneos nem sempre resultam em leitores, mas rotinas e procedimentos organizados, aprofundados e metódicos são os mais adequados a ensinar.

Assim, ter um método de ensino torna o exercício da profissão docente mais intensamente capaz de objetivar desejos e intenções. No ensino do gostar de ler, o método – a mediação literária – agrega valor ao artefato cultural – o livro e seus atributos – e não pode prescindir de planejamento, desenvolvimento e avaliação.


As imagens...

Com o consentimento dos pais, as imagens das crianças que aprendem a gostar de ler na casa da “Profe Josy” estão aqui, nesta matéria.

Parabéns, Joseane! Tu és uma estudante de Pedagogia que agrega valor a nossa profissão!

E...

Feliz dia da leitora!

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Infâncias: reunião de contos de Cristina Maria Rosa


 Infâncias: um e-book para crianças

Cristina Maria Rosa


Em 2019, dei início a um projeto: reunir, em livro, contos que escrevo desde algum tempo e que tenham, como personagem central, crianças. Ele está pronto e, em breve, será disponibilizado online, gratuitamente.

Alguns dos títulos contidos no sumário são: A fada dos moranguinhos, A língua dos gatos, A Maçã da Branca de Neve,  Anita, As três Dulces, Biso Albino Biso Bruno, Bolas de Berlim,  Brasileirinhas,  Cadeira do Pensamento, Carol, Charles, o sapo, Costumes de Frederico, o príncipe, Fogueira,  Frederico, o príncipe, Íris e os três Porquinhos, Jaguatirica, Meninas e sobrinhas, Narizinho, O palco da Dona Flávia, Os herdeiros, Os treze de Platão, Piquenique de casaco de gola, Um bilhete para a Bruxa, Um guri argentino, Uma bebê, um bico e um tapa.

Opinião

Ao ser convidado a compor o posfácio, após ler os contos o estudante de Pedagogia Alisson Castro Batista escreveu:

"Com elegância e descontração, a obra proporciona um ambiente de leitura aconchegante, transitando entre diferentes formas de apresentar a complexa simplicidade da Infância. Trata-se de um apanhado de acontecimentos cotidianos que convidam o leitor para, involuntariamente, vez ou outra, visitar o seu próprio passado. Como observado neste trecho logo no início da obra: “Um livro de narrativa de infâncias quase sempre é a memória de um adulto que, ao ser convidado a se emocionar com o que ocorre a seu redor, deixa, por escrito, as palavras da emoção sentida.“ Estes relatos emocionados dos adultos são traduzidos em narrativas sutis e imprevisíveis, que inspiram o leitor a visitar suas memórias e resignificar constantemente as lembranças que encontrarem por lá" (BATISTA, 2010).


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Cartas: um pedacinho de minha infância

Cartas: um pedacinho de minha infância

          Conheça aqui, na íntegra, o E-book organizado por Cristina Maria Rosa e Jessica Corrêa Ribeiro em 2020, quando da oferta do Grupo Estudos Literários, entre maio e julho. O lançamento da obra foi em web conferência no dia 07 de novembro de 2020 e contou com as autroras reunidos. 

FaE/UFPel, Pelotas, 2021.
























Livros para bebês: uma lista...

 


Livros para a primeira infância: sugestões

Cinara Tonello Postringer;

Paloma Evelise Wiegand

Cristina Maria Rosa

 

O foco da investigação foi conhecer quantas há e quais são as obras literárias indicadas a serem lidas para bebês entre zero e quatro anos disponíveis no acervo da SLEV – Sala de Leitura Érico Veríssimo. A investigação está sendo desenvolvida desde março de 2019 e justifica-se pela necessidade de delimitar um corpus adequado à Alfabetização Literária de crianças que frequentam escolas públicas no Município de Pelotas, uma das atividades do PET Educação.

A primeira infância é uma fase muito importante para o crescimento da criança e, quanto melhores forem, as circunstâncias de vida durante este período, maiores serão as probabilidades de que ela se torne um adulto mais equilibrado, produtivo e realizado. A alfabetização literária pode ser entendida como um processo de “apresentação da literatura  a todos” e, de acordo com ROSA (2019), significa que a formação do gosto por ler literatura é um processo que não pode ser aleatório, eventual e desprovido de critérios.

Para Debus (2015), os critérios de seleção de livros literários destinados a crianças “levam em consideração, na maioria das vezes, os estágios de desenvolvimento infantil, obedecendo à faixa etária ou à faixa escolar do leitor”. A pesquisadora informa que, quando se trata de crianças pequenas, entre zero e seis anos de idade, “existem algumas especificidades nos critérios que orientam o acesso e a escolha dos livros” e que eles são importantes por dois motivos: a maior parte das crianças ainda não está no espaço escolar e é uma leitora em formação.

Para Abramovich (1997), a literatura tem linguagem fluida e aborda os problemas de modo discursivo e indica critérios a serem adotados quando da escolha de obras, entre eles, ter como princípio que a formação do leitor inicia pela audição de muitas histórias, escolher inicialmente histórias curtas e bem humoradas, inteligentes, criativas, que surpreendem e investir na escolha de obras a serem lidas pelos leitores, observar de forma crítica como os personagens são representados nas ilustrações, especialmente os pobres, as mulheres, os indígenas, japoneses e negros, as mães, tias e professoras. Além disso, considera importante priorizar a presença de humor, o deboche saudável, a ironia, o nonsense, a presença de personagens nada comuns e preferir obras com presença da lógica da criança. Abramovich também argumenta pela inserção da poesia “boa, bem escrita, que mexe com a emoção, que nos aguça, que nos deixa um pouco diferente depois de cada verso”, propor obras que oferecem informação e verdade, pois “entender o processo de como nascemos até quando morremos faz parte natural da curiosidade da criança” e ler integralmente os “Contos de Fadas” pela abordagem do amor em todos os seus prismas: descoberta, encanto, possibilidade, entrega, plenitude, sofrimento, angústia, injustiça, tristeza, obstáculos, dúvidas, identidade, rejeição, perdas, esquecimentos, revelações de sexualidade, da vida e da morte.

Para Nelly Novaes Coelho (1993) a categoria leitora está vinculada a três fatores: “idade cronológica, nível de amadurecimento biopsíquico-afetivo-intelectual e grau ou nível de conhecimento/domínio do mecanismo da leitura”. Assim, indica compor um acervo a partir da seguinte divisão: 1) pré-leitor (primeira infância que inclui bebês dos 15/17 meses aos 3 anos e, segunda infância, com crianças a partir dos 2/3 anos); 2) Leitor iniciante ou crianças a partir dos 6/7 anos; 3) Leitor em processo ou crianças a partir dos 8/9 anos; 4) leitor fluente ou criança a partir dos 10/11 anos e 5) leitor crítico, já um pré-adolescente a partir dos 12/13 anos.

Para Maria Betty Coelho Silva (1991), devem ser respeitadas as peculiaridades e os estágios emocionais das crianças na escolha dos livros. “Alimento da imaginação”, as histórias precisam respeitar a “estrutura cerebral” infantil. A autora faz um quadro demonstrativo de interesses, no qual divide os leitores em pré-escolares e escolares. E divide os pré-escolares em duas fases: a pré-mágica (crianças até três anos) e a mágica (crianças de três a seis anos). Aconselha para os primeiros, histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza (humanizados), história de crianças. Para os demais, histórias de repetição e acumulativas, além de histórias de fadas.

Pouco estudados no século XX, esse grupo de leitores em formação (bebês em sua maioria não escolarizados) eram pouco visados pelas políticas públicas e pela indústria do livro. O comum é que Editoras criassem brinquedos que imitavam livros como os de pano, de borracha, de plástico e outros materiais resistentes ao tato, ao gosto, à água, à falta de traquejo das mãos infantis. Em fins do século XX e início do XXI, a presença intensa de bebês nos berçários e escolas infantis desencadeou estudos com o intuito de prescrever quais seriam os livros que poderiam ser utilizados na alfabetização literária dessas crianças. Para Abramovich (1989), Coelho (1993) e Silva (1991), deveriam ser livros lidos por adultos para as crianças, ilustrados, bem humorados, poéticos. E deveriam conter histórias sobre bichos, brinquedos, objetos, seres da natureza, histórias de repetição e acumulativas. Obras com predomínio da fantasia como contos de fadas, mitos, lendas e fábulas e atitudes como o desenvolvimento da apreciação critica da leitura são recomendados. Pouco texto, muita gravura, cor e, em alguns casos, sons também foram sugeridos e apareceram no mercado. Livros de panos, livros-brinquedos e somente de imagens aparecem com frequência nos catálogos de Editoras, indicando que o mercado é eficaz em enganar o consumidor.

Rosa (2019) argumenta que a criança pequena não pode ser subestimada e sugere que a leitura pode ter início assim que ela ficar ereta, sentada no colo do adulto, na cadeirinha ou no “bebê-conforto”. Para tal, o leitor (mãe, irmão mais velho, professora, cuidadora) deve escolher um excelente texto que pode ou não ser ilustrado. A autora defende que durante a leitura do texto escolhido, o som da voz e os ritos da leitura (escolher, abrir folhear, indicar imagens, fechar, guardar) são formadores desse leitor em potencial, tornando a leitura “de verdade” e não apenas imitação ou distração. Para a autora, o livro não é um brinquedo: é o artefato mais importante da cultura escrita e a leitura seus atributos e sentidos podem ser adquiridos desde tenra idade.

A pesquisa...

A pesquisa em acervos integra-se à abordagem qualitativa, embora conhecer a quantidade de obras em um acervo seja considerado um procedimento quantitativo. Assim, a investigação que estamos realizando pode ser considerada uma mescla entre as duas abordagens. A metodologia de pesquisa é descrita por Minayo (2002, p. 16) como a confluência de “concepções teóricas de abordagem”, “conjunto de técnicas” que possibilitam a observação e análise da realidade e a influência do “potencial criativo do investigador”. Para a autora, a pesquisa qualitativa “responde a questões muito particulares” e se preocupa com “um nível de realidade que não pode ser quantificado” (MINAYO, 1994, p. 21). De acordo com essa abordagem, optamos por procedimentos que, primeiro, sustentassem teoricamente a investigação. Assim, conceituar infância e alfabetização literária foi primordial. Logo depois critérios de escolha de obras adequadas às crianças nesta faze foram explorados em uma revisão de bibliografia.

Para realizar a investigação que tem como foco conhecer quantas há e quais são as obras literárias indicadas para bebês entre zero e quatro anos disponíveis no acervo da SLEV, em um segundo momento o procedimento foi inventariar o acervo considerando a quantidade de obras e seus temas/títulos, ou seja, considerar o aspecto quantitativo na coleta de dados. O intuito foi delimitar um corpus adequado à Alfabetização Literária de crianças entre zero e seis anos que frequentam escolas públicas no Município de Pelotas, ou seja, compor uma lista de obras interessantes, propícias, representativas de diferenciados gêneros, entre outros aspectos, para o trabalho de leitura na escola.

Logo depois, investimos em: a) selecionar um grupo de indicados aos pequenos, entre zero e seis anos de acordo com os critérios desenvolvidos por Nelly Novaes Coelho (1993) e Maria Betty Coelho Silva (1991); c) ler todos os selecionados; d) categorizar as obras quando aos critérios de ROSA (2018); e) Compor a lista referencial de literários para a primeira infância; f) escrever as conclusões.


Alguns resultados...

A aquisição de obras que deram início ao acervo iniciado em 1995, foi inspirada nos critérios desenvolvidos por Fanny Abramovich (1989) e Nelly Novaes Coelho (1993). Para as autoras, a criança que se encontra na primeira infância (entre zero e seis anos) é o potencial leitor ou pré-leitor. Com a formação adquirida em 24 anos de estudo na área, o desenvolvimento de práticas de leitura com pequenos, a profusão de novos autores e ilustradores mais as profundas modificações no Mercado Editorial, a professora Cristina Rosa afirmou que, atualmente, a SLEV abriga e disponibiliza seis acervos: a) Livros sobre a Literatura e seu ensino; b) Obras de Literatura Universal, como Poesia Completa (Cecília Meireles) e Obras Completas (Jorge Luis Borges); c) Obras de Literatura Infantil (maior acervo, possui em torno de 1200 títulos entre Clássicos e Modernos, com ênfase para os brasileiros; d) Obras de Literatura Infanto-Juvenil, uma Gibiteca e uma coleção de banners, que apresenta a história da sala.

Descobertas...

E o que descobrimos quando inventariamos o acervo composto por Obras de Literatura Infantil? Do montante (1200 livros), selecionamos os cem livros mais instigantes. São textos literários, parte em prosa, parte em verso, alguns híbridos, a maioria ilustrados e com pouco texto. Entre eles estão: 1. A coleção Miolo Mole, de Eva Furnari; 2. Toda a obra infantil de Erico Verissimo (A Vida do Elefante Basílio, As Aventuras do Avião Vermelho, Rosa Maria no Castelo Encanteado, Os três porquinhos pobres, Outra vez os três porquinhos e O urso com música na barriga); 3. A poesia de diversos autores, entre eles, Cecília Meireles (Ou isto ou aquilo), Chico Buarque de Olanda, Carlos Drumond de Andrade, Gonçalves Dias, Henriqueta Lisboa, José Paulo Paes (É isso ali), Mario Quintana (Lili inventa o mundo, Sapato Florido, Sapo Amarelo e Pé de Pilão) Olavo Bilac e Vinícius de Moraes (A arca de Noé); 4. A Coleção Familiares, de Nelson Albissu (Mães e Pais, Tios e tias, Avôs e avós...); 5. A coleção Série Fantástica de Leila Luri Bergman; 6. Títulos imperdíveis como A Velha, a mosca e a narrativa de Cristina Maria Rosa; A zeropéia de Herbert de Souza; De letra em letra de Bartolomeu Campos de Queirós, O Rato roeu a roupa, de Ana Maria Machado e Vamos brincar com as palavras, de Lúcia Pimentel Góes.

Concluindo...

Com a pesquisa pudemos perceber que, no passado, quando se abordava a temática da infância em casa e na escola e os livros indicados a estas infâncias, não havia consenso e nem mesmo critérios para orientar pais e professores. Com o advento das teses sobre o tema, iniciados pelo trabalho de Nelly Novais Coelho no Brasil, todos ganharam: as crianças, os professores, as escolas, os cursos de formação de professores, as bibliotecas, as editoras e até mesmo as políticas públicas. Não basta mais apenas ler. O que ler, como, qual livro e quando integram os saberes acerca da leitura para os pequenos. Dada a importância do assunto, é preciso desenvolver saberes mais profundos, especialmente nos cursos de formação de professores, uma vez que é essa profissão a responsável por alfabetizar literariamente na sociedade. Salientamos que o conhecimento gerado ao longo de uma vida dá-se coletivamente, principalmente se estivermos falando de uma atividade cognitiva exclusiva da espécie humana.