sábado, 15 de julho de 2017

Semana Literária Herbert de Souza, o Betinho


A segunda semana de julho (10 a 14/07/2017) foi intensa na Sala de Leitura Erico Verissimo. Dedicada ao Escritor Herbert de Souza, o Betinho, teve aula na Livraria, matéria publicada em BLOG, crianças brincado de guarda-chuva e sanduíche de atum com suco de uva.
Ao propor e desenvolver micropolíticas de leitura, entre elas, visitas guiadas para conhecimento do acervo e do espaço, cursos livres, saraus literários, pesquisas sobre o livro e a literatura e aulas em ambientes, a Sala de Leitura tem se tornado um lócus desencadeador de relações múltiplas com o livro e a literatura, mas, também, com a formação de leitores e mediadores.
Conheça a agenda desenvolvida pelo Gell – Grupo de Estudos em Leitura Literária – que culminou com uma Visita guiada à Sala para o primeiro Semestre da Pedagogia da FaE/UFPel.
10/07 – Atividades
1.      Estudos da obra A Zeropéia, de Herbert de Souza
O livro “A Zeropéia” foi escrito para as crianças pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e lançado em 1993. É uma interessante narrativa que ensina as crianças e serem elas mesmas, com suas próprias idéias na cabeça. Este foi o caminho que Betinho encontrou para mostrar à criança que precisamos, antes de tudo, gostar de nós mesmos. Respeitar as opiniões diferentes não significa abdicar de nossas próprias idéias. Existe também um CD “A Zeropéia”, que foi lançado em Belo Horizonte no ano de 2004.
Local e hora: Sala de Leitura, 17 horas
11/07 – Aula pública de Literatura Infantil. Tema: Critérios de escolha e de relevância de obras literárias infantis: um estudo
Local: Livraria Vanguarda, das 9 às 11 horas
12/07 – Reunião de preparação para as leituras públicas da semana.
Local e hora: Sala do PET Educação, das 10 às 12 horas;
13/07 – Quinta-feira             
1.      Leitura literária para crianças: o GELL recebe o 5º Ano da E.E.E.F. Dr. Brusque Filho, para a leitura de A Zeropéia.
Acompanhados da Professora Isabel e da Diretora Érica, as crianças se divertiram ouvndo e lendo. 
Local e hora: Alberto Rosa, 154. Sala 04/Térreo do ICH, 9 horas.
2.      Leitura de Reinações de Narizinho, Monteiro Lobato para os 5º Anos da E.E.E.F. Fernando Treptow
Local e hora: Rua Ernani Fornari, 221 - Fragata, Pelotas, 9 horas.
14/07 – Atividades:
1. Leitura Literária: Contos de Terror e outros contos para os 9º anos da Anos da E.E.E.F. Fernando Treptow
Local e hora: Rua Ernani Fornari, 221 - Fragata, Pelotas, 9 horas.
2. Leitura Literária na Sala de Leitura: O GELL recebe as crianças do 1º Ano da E.E.E.F. Dr. Brusque Filho, para a leitura de A Zeropéia.
Local e hora: Sala de Leitura, 15 horas;
3. Visita Guiada à Sala de Leitura.
Público: Primeiro Semestre da Licenciatura em Pedagogia da FaE/UFPel
Docente que promoveu: Heloísa Duval
Nesta visita, o GELL, representado pelas personagens Bruxa, Fada e Girafalda Bixófila, recebeu os estudantes e informou a respeito das atividades da sala na FaE, nas escolas, em espetáculos e na Formação Docente.
As micropolíticas desenvolvidas pela Sala de Leitura buscam aproximar universitários dos livros e do gosto por ler, além de estabelecer contato profícuo com a escola e os futuros leitores. Integrada à Pedagogia, a Sala de Leitura é um espaço de exercício qualificado dos saberes literários como saberes docentes (PAULINO, 2001) e pauta-se pelo argumento de que a formação do mediador literário é estruturador e primordial no exercício cotidiano da docência, nos anos iniciais da escolarização.
4. Ensaio Público do Espetáculo "No Manantial", de JSLN.
Local e horário: Museu do Doce (Casarão 8, Centro Histórico), 16 horas.
Créditos:
Sala de Leitura Erico Verissimo da FaE/UFPel.
Sala 04/Andar Térreo do ICH - Alberto Rosa, 154.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Critérios de escolha e de relevância de obras literárias


 Ao escolhermos uma obra a ser lida para nossas crianças em casa ou na escola, um grupo considerável de critérios precisam ser considerados, entre eles, autoria, gênero, ilustrador, quantidade e qualidade do texto, tema e até mesmo, questões agregadas que podem desencadear perguntas e indagações.
Critério significa "julgamento" e pode ser entendido como juízo, discernimento ou mesmo a opinião de uma pessoa. É uma condição subjetiva que possibilita optar, escolher e, por isso, por definir nossas escolhas, é considerado um juízo de valor.
Juízos de valor podem ser pessoais, mas não os empregamos apenas no âmbito pessoal. Se os utilizamos para julgamentos de questões que extrapolam nossas vidas provadas, devem ser considerados do ponto de vista do que implicam nas vidas dos demais.
Assim é com a escolha de um livro a ser lido para crianças, pois os adultos precisam saber defendê-lo, ou seja, evidenciar a relevância de tal obra na formação dos infantes da espécie[1]. No caso da escola, mais aprimorado ainda devem ser os critérios de escolha do que ler aos pequenos.
As escolhas pessoais (familiares, religiosas, éticas e morais) podem ser de qualquer tipo, pois implicam em uma dimensão individual em que, supostamente, apenas o sujeito e sua família será beneficiado ou prejudicado. As escolhas públicas – na escola e para processos educativos – implicam em uma dimensão para além do indivíduo, ou seja, envolvem os demais: os alunos de uma classe inteira e até a escola como um todo, não esquecendo que estas reverberam nas famílias dos meninos e meninas que frequentam a escola. Atingem desde a criança até a sociedade como um todo, uma vez que estamos todos conectados.
Assim, um juízo de valor externado em uma escolha literária implica em, necessariamente, considerar o impacto de nossas opiniões na vida dos demais em sociedade. Implica em, por isso mesmo, considerar o que os outros pensam a respeito do mesmo assunto.
Obra literária: o conceito
Uma obra literária, para ser considerada como tal, precisa ser, em primeiro lugar, representante da arte. A arte literária.
E o que é arte literária? É a arte da palavra, materializada pela expressão do pensamento do autor/autora. Para Graça Paulino, a arte literária é representada pelo contato – pacto – entre o autor e o leitor. Um pacto do qual se usufrui intensamente. Em suas palavras:

A leitura se diz literária quando a ação do leitor constitui predominantemente uma prática cultural de natureza artística, estabelecendo com o texto lido uma interação prazerosa. O gosto da leitura acompanha seu desenvolvimento, sem que outros objetivos sejam vivenciados como mais importantes, embora possam também existir. O pacto entre leitor e texto inclui, necessariamente, a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção, pois através dela se inventam outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções (PAULINO, 2014[2]).

Se a literatura é uma arte e há diferentes autores, obras, gêneros, como escolher o que é a melhor expressão da artesania humana para os pequenos em casa e na escola?
Os critérios clássicos para escolher uma obra literária infantil são a longevidade, a linguagem (expressão inusitada e/ou metafórica), a inesgotabilidade (diferenciadas e infindáveis leituras de uma mesma narrativa), o valor histórico e documental, a magia, o vínculo com a ancestralidade e a capacidade de “fazer pensar”.
Sim, pensar, pois arte literária não é apenas “alegria, alegria”. A arte literária infantil tem o compromisso, por arte, de unir o lúdico (jogo de deleitar-se) com o útil (jogo de posicionar-se). Como humanos, espécie que através da linguagem se representa, temos essa premência que é simbolizar. Nas palavras de Bagno (2014), a linguagem é uma faculdade cognitiva
“... exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento. Nós somos seres muito particulares, porque temos precisamente essa capacidade admirável de significar, isto é, de produzir sentido por meio de símbolos, sinais, signos, ícones etc. Nenhum gesto humano é neutro, ingênuo, vazio de sentido: muito pelo contrário, ele é sempre carregado de sentido, nos mais variados graus, e cabe justamente à nossa capacidade de linguagem interpretar o sentido implicado em cada manifestação dos outros membros da nossa espécie (BAGNO, 2014).

Textos literários infantis: bobices?
Brinquedos inventados por nós, adultos, através de um mecanismo incrível, o nosso cérebro e nossa imaginação, os textos literários têm destino: os nossos infantes. Criação pura, invencionice – bobices e gostosuras, como diz Fanny Abramovich – a arte destinada por nós, os maduros da espécie aos pequenos deve ser, ao mesmo tempo, doce e útil, pois a literatura tem o compromisso de encantar o leitor e, ao mesmo tempo, torná-lo mais culto, mais perspicaz, mais inteligente, mais curioso.
Lembre: uma obra literária não tem a tarefa de informar, embora possa fazer isso; não tem como compromisso educar, apesar de poder. A obra literária tem compromisso com a imaginação, a emoção, a estética. E um pensamentozinho, ora sim, ora também.
Escolhendo obras: uma aula sobre critérios e relevância de obras literárias.
Convidadas a escolher uma obra na estante da livraria, após um primeiro diálogo a respeito do espaço e as evidências ali encontradas a respeito do que o estabelecimento comercial considera infância e livros para a infância[2], minha alunas escolheram e defenderam suas escolhas. Ao fim da aula, um grupo considerável de razões que nos levariam a levar para casa ou à escola um livro. Vamos conhecer os critérios de escolha e de relevância surgidos dessa experiência?
Os argumentos escolhidos para justificar as escolhas de livros para a infância foram a apresentação de tema relevante ou emocionante, autoria conhecida, respeitada e/ou indicada por leitor experiente e a presença de exemplares em que autor e ilustrador são a mesma pessoa. Autores regionais também forma mencionados como importantes.
Ouro grupo de argumentos considerou o endereçamento ou a adequação para a idade dos ouvintes ou a presença de um tema que preciso conhecer.
A expressão estética apurada e o livro extrapolar, via linguagem, os conceitos de “livro para infância”, foi valorizado. A ilustração ou ilustrador conhecido foi levado em consideração e alguns escolheram livros que incluíam CD ou DVD.
Foram considerados como interessantes os gêneros poético e reconto e, quando a temática era relacionada à formação da leitora como música e história, foram evidenciadas.
Apresentar linguagem regional, livros para gostar de ler e se tornar leitor, possuir informações prévias, integrar uma coleção, possuir amplo léxico e ter glossário, foi valorizado na defesa das obras escolhidas. Ser a primeira edição ou uma nova edição que manteve o texto original, mas atualizou a ortografia foram elogiados. A presença de sumário, a quantidade e qualidade do texto, ter informações além do texto (paratextos) e conhecer quem organizou também foram ressaltados como importantes argumentos para escolher/ler uma obra.
Foram considerados relevantes livros que possuíam imagens em três dimensões, partituras e notações além da qualidade da capa. Ser colorido, ser um livro brinquedo, ter efeito Pop-up, ser um texto com ritmo, com continuidade e, ter valor acessível, foram mais alguns dos critérios/argumentos para a escolha dos títulos.
Dicas para a escolha de livros.
Ler antes de comprar. Sempre. É a dica mais importante;
Conheça o seu público ou para quem você vai ler. Isso ajuda a escolher um gênero, um título, um autor...
Autor: escolha um brasileiro respeitado, indicado por outros leitores, premiado, que as crianças gostam...
Gênero: narrativas, poesia, fábulas, lendas, cordel, história em quadrinhos, terror, biografias, abecedários, recontos...
Editora: Brasileiras que investem em formato, cor, durabilidade, evidência de autoria, qualidade do texto e da imagem, durabilidade do impresso, paratextos de qualidade...
Ouça quem indica: se um conhecedor indicou, se tu confias em quem leu, se há uma lista que a professora disponibilizou, ouça, considere, leve em conta, vá por eles. Quem lê adora indicar livros aos demais, mas não custa nada ler antes...
Valor: entre dois bons livros, escolha aquele que tem custo/benefício mais evidente. Exemplo: Um livro com 92 poemas é mais importante que um livro com apenas uma narrativa se os dois custam a mesma coisa ou tem preços similares;
Ilustração: um livro com um excelente ilustrador tem seu valor. Afinal, a arte literária pode ser acompanhada das artes plásticas...
Apaixonamento: confie em você. Ao apaixonar-se por um livro, indique, releia, faça circular.

Referências ou para saber mais...
BAGNO, Marcos. Linguagem. Glossário CEALE, 2014. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/linguagem).
PAULINO, Graça. Leitura Literária. Glossário CEALE, 2014. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/leitura-literaria
ROSA, Cristina. Critérios de escolha: um passinho de cada vez. Alfabeto à Parte, 26 de março de 2015. Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2015/03/criterios-de-escolha-um-passinho-de.html
NÓBREGA, Vitor Augusto. Surgimento das palavras: a explosão vocabular da espécie humana. Jornal da USP, 29/07/2016. Disponível em: http://jornal.usp.br/artigos/surgimento-das-palavras-a-explosao-vocabular-da-especie-humana/




[1] Nascido de pouco, bebê ou mesmo criança, o que caracteriza um infante é a necessidade de cuidados – proteção – sem os quais ele não sobrevive. Na espécie humana, além de cuidados básicos como alimentação, saúde e segurança, os infantes precisam aprender a se comunicar. A comunicação inclui falar, ouvir, ler e escrever, basicamente. Para Vitor Nóbrega, doutorando em Linguística na USP, “um dos caracteres que assinalam a complexidade da faculdade da linguagem é o domínio de um extenso vocabulário que se amplia cotidianamente”. Para ler mais sobre esse tema, clique em: http://jornal.usp.br/artigos/surgimento-das-palavras-a-explosao-vocabular-da-especie-humana/
[2] O estabelecimento comercial evidencia noções de infância que arquitetos, marceneiros, autores, editoras e mesmo comerciantes possuem. Para um determinado grupo societário, a infância pode ser apresentada e representada por um determinado espaço, um grupo de cores, certos projetos gráficos e editorias e linguagem específica.