A Sala de Leitura Erico Verissimo apoio o Movimento por um Brasil
Literário. Leia, na íntegra, seu Manifesto.
MANIFESTO
"O Movimento por um Brasil Literário manifesta sua intenção de concorrer
para fazer do País uma sociedade leitora. Reconhecemos como princípio o direito
de todos de participarem da produção também literária. No mundo atual,
considera-se a alfabetização como um bem e um direito. Isto se deve ao fato de
que com a industrialização as profissões exigem que o trabalhador saiba ler.
No passado, os ofícios e ocupações eram transmitidos de pai para filho,
sem interferência da escola. Alfabetizar-se, saber ler e escrever tornaram-se
hoje condições imprescindíveis à profissionalização e ao emprego. A escola é um
espaço necessário para instrumentalizar o sujeito e facilitar seu ingresso no
trabalho. Mas, pelo avanço das ciências humanas, compreende-se como inerente
aos homens e mulheres a necessidade de manifestar e dar corpo às suas
capacidades inventivas. Por outro lado, existe um uso não tão pragmático de
escrita e leitura.
Numa época em que a oralidade perdeu, em parte, sua força, já não nos
postamos diante de narrativas que falavam através da ficção de conteúdos
sapienciais, éticos, imaginativos.
É no mundo possível da
ficção que o homem se encontra realmente livre para pensar, configurar
alternativas, deixar agir a fantasia. Na literatura que, liberto do agir
prático e da necessidade, o sujeito viaja por outro mundo possível. Sem
preconceitos em sua construção, daí sua possibilidade intrínseca de inclusão, a
literatura nos acolhe sem ignorar nossa incompletude. É o que a literatura
oferece e abre a todo aquele que deseja entregar-se à fantasia.
Democratiza-se assim o
poder de criar, imaginar, recriar, romper o limite do provável. Sua fundação
reflexiva possibilita ao leitor dobrar-se sobre si mesmo e estabelecer uma
prosa entre o real e o idealizado.
A leitura literária é
um direito de todos que ainda não está escrito. O sujeito anseia por
conhecimentos e possui a necessidade de estender suas intuições criadoras aos espaços
em que convive.
Compreendendo a literatura como
capaz de abrir um diálogo subjetivo entre o leitor e a obra, entre o vivido e o
sonhado, entre o conhecido e o ainda por conhecer;
Considerando que este diálogo das
diferenças, inerente à literatura, nos confirma como redes de relações;
Reconhecendo que a maleabilidade
do pensamento concorre para a construção de novos desafios para a sociedade;
Afirmando que a literatura,
pela sua configuração, acolhe a todos e concorre para o exercício de um pensamento
crítico, ágil e inventivo;
Compreendendo que a metáfora literária
abriga as experiências do leitor e não ignora suas singularidades;
Outorgando a si mesmo o
privilégio de idealizar outro cotidiano em liberdade, e movido pela intimidade
maior de sua fantasia, um conhecimento
mais amplo e diverso do mundo ganha corpo e se instala no desejo dos homens
e mulheres promovendo os indivíduos a sujeitos e responsáveis pela sua própria
humanidade.
De consumidores passa-se a investidores
na artesania do mundo. Por ser assim, persegue-se uma sociedade em que a
qualidade da existência humana é buscada como um bem inalienável.
Liberdade, espontaneidade, afetividade e fantasia são elementos que fundam
a infância. Tais substâncias são também pertinentes à construção literária.
Daí, a literatura ser próxima da criança.
Possibilitar aos mais jovens acesso ao texto literário é garantir a
presença de tais elementos, que inauguram a vida, como essenciais para o seu
crescimento. Nesse sentido é indispensável a presença da literatura em todos os
espaços por onde circula a infância. Todas as atividades que têm a literatura
como objeto central serão promovidas para fazer
do País uma sociedade leitora.
O apoio de todos que assim compreendem a função literária à proposição é
indispensável.
Se é um projeto
literário, é também uma ação política por sonhar um País mais digno".
Bartolomeu Campos de
Queirós
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