No
texto “Comunidades de leitores”, Maria De Lourdes Dionísio explora teoricamente
que é esta “modalidade coletiva de leitura”. Publicado o Glossário CEALE, leia
aqui, na íntegra, o texto produzido pela professora do Instituto de Educação da
Universidade do Minho – Portugal.
“Uma
busca rápida em qualquer site de pesquisa devolve-nos milhares de referências a comunidades
de leitores. São blogues de pessoas singulares ou coletivas, convites de clubes
de leitura, anúncios de eventos em bibliotecas e até publicidade de editoras e
livrarias. Nesse sentido, uma comunidade
de leitores consiste num grupo de pessoas que se reúne periodicamente
para debater obras previamente acordadas, sugeridas ou não por um coordenador,
muitas vezes uma pessoa de renome – por exemplo, um escritor. É frequente também
o alerta para o fato de não se pretender, nesses encontros, discutir
conhecimento acadêmico ou desenvolver análises textuais profundas. Tão
simplesmente é uma modalidade mais ativa e social de promoção da leitura e do
livro.
Nos
fundamentos dessa modalidade coletiva de
leitura, alimentada pela cumplicidade, os participantes nem sempre detêm
todos o mesmo conhecimento sobre o tema ou a obra. Nesse processo, encontram-se
duas perspectivas: a natureza dos processos de construção de sentidos e a
aprendizagem. Quanto à construção de
sentidos, as comunidades de leitores são devedoras da noção de
que os sentidos que construímos sobre os textos são partilhados por comunidades
interpretativas: entidades públicas e coletivas compostas por todos aqueles que
detêm uma mesma estratégia de interpretação ou um mesmo modelo de produção de
textos.
Quanto
às teorias de aprendizagem, nessas
comunidades interpretativas ou comunidades de prática, aprendem-se,
desenvolvem-se e ativam-se modelos culturais: teorias tácitas e cotidianas de
um dado grupo que definem o que é típico e normal do ponto de vista desse
grupo. No caso da leitura, e pelo ato de participação, os membros do grupo
aprendem as mesmas categorias de compreensão necessárias à interpretação de um
texto, os comportamentos oficialmente sancionados e culturalmente aceitos
quanto ao que deve ser uma leitura apropriada, a resposta do leitor e até o que
é um texto válido.
As
semelhanças entre a natureza situada da aprendizagem nessas comunidades de
prática e as comunidades de leitores, também elas caracterizadas pela
interação social, pela prática colaborativa e construtiva, têm estado na origem
da sua mobilização para a escola. Ao serem envolvidos nas comunidades de
leitores – com aprendizes e especialistas à volta de uma vasta gama de
recursos autênticos de leitura, em que os próprios interesses dos aprendizes
também têm um papel – os alunos e as alunas vivem condições de excelência para
o desenvolvimento de repertórios de
saber mais alargados sobre o mundo, a língua e a literatura, seus valores e
papéis mas, sobretudo, de modos próprios de ser leitor, ou seja, da identidade letrada.
Concebida
como espaço em que leitores mais ‘imaturos’ se vão desinibindo à medida que
discutem com ‘especialistas’ (ou só ouvem discutir), o potencial da comunidade
de leitores gerada na escola irá tanto mais longe quanto mais ela se
alargar para além da aula ou da biblioteca. Com efeito, a criação e manutenção
de uma comunidade em contexto escolar supõe o envolvimento de outras
comunidades, como a família e outras do entorno mais vasto da escola.
Fazendo
viver a leitura como uma experiência verdadeiramente social, as comunidades
de leitores potencializam caminhos que não se esgotam nos encontros
presenciais regulares. O sentimento de
pertencimento ou de pertinência a tais comunidades é uma das principais
contribuições dessas práticas e condição suficiente para a formação de leitores
competentes e duradouros”.
Para
conhecer as referências do verbete, clique em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/comunidades-de-leitores
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