Peninha conta em dicionário a história da Independência do Brasil
Cristina Maria Rosa
Ouviram o quê do Ipiranga?
O novo livro de Eduardo Bueno, Dicionário da Independência – 200 anos em 200
verbetes, conta de maneira direta e descontraída os acontecimentos em torno do
processo de separação entre Brasil e Portugal[1].
O lançamento do volume está
previsto para o dia 15 de setembro, mas já é possível comprá-lo em pré-venda
até o dia 14 pelo site da Editora Piu. Originalmente, o projeto do jornalista era
realizar um dicionário com verbetes sobre o descobrimento do Brasil. Porém, em
2018, foi anunciado o Prêmio de Incentivo à Publicação Literária - 200 Anos de
Independência, promovido pelo então Ministério da Cultura (hoje uma
secretaria). Peninha, como Bueno é conhecido, decidiu adaptar o formato para
verbetes abordando a Independência do país – episódio que completa 200 anos em
2022 – e foi contemplado pelo edital.
Como a Editora Piu — cuja
proprietária é a sua esposa, Paula Taitelbaum, responsável pelas ilustrações do
dicionário – tem como base o público infantojuvenil, o projeto se direcionou
para essa faixa etária. Porém, o jornalista destaca que o público do livro pode
ser mais amplo:
LEIA MAIS
– Sempre quis fazer um
livro para crianças de 8 a 88 anos. Embora seja um livro infantojuvenil, pega
outro público também.
Peninha virou um fenômeno
editorial com seus livros sobre a história do Brasil – em especial, sobre o
período colonial. Em 2017, lançou no YouTube o canal Buenas Ideias,
em que apresenta fatos históricos "através de um ponto de vista divertido,
que marca a genialidade e humildade do autor", como diz na descrição. Ele
também levaria a história do Brasil para os palcos com o espetáculo
stand-up Não Vai Cair no Enem
– Uma Peça.
Natural de Porto Alegre,
Peninha passou uma parte da infância em São Paulo. Ele lembra de visitar o
riacho do Ipiranga (às margens do qual Dom Pedro I proclamou a Independência,
em 7 de setembro de 1822) e o Museu do Ipiranga em passeios escolares. Foi
nessa época que uma curiosidade se instaurou nele.
– Entrei numa trip não só
de gostar de história, mas de vincular a história ao lugar onde ela se passa.
Já pequeno, eu ficava pensando por que o riacho era tão podre. Eu me perguntava
se já era assim na época da Independência (risos) – recorda.
Continuidade ou
morte
Em Dicionário da
Independência, Peninha traz informações e curiosidades em tom bem-humorado a
respeito do Grito do Ipiranga. Entre os verbetes que vão de
"Abdicação" até "Zodíaco", passando por alguns inusitados
como "Diarreia" e "Demonão", ele apresenta personagens e
fatos em textos curtos e didáticos sobre o antes e o depois da Independência.
– É uma forma divertida de
tu contar a história. Pode se abordar desse jeito Peninha e debochar, mas,
cara, é uma proposta de reflexão – ressalta o autor.
O dicionário joga luz na
participação feminina na Independência: "D. Leopoldina assinou o decreto
de Independência. Maria Quitéria lutou vestida de homem. Madre Joana Angélica
morreu defendendo seu convento dos portugueses. E Maria Felipa teria liderado
um grupo de marisqueiras que lutou em Itaparica", descreve o verbete
"Mulheres".
– Um dos objetivos do livro
era deixar claro o quanto as mulheres tiveram uma participação decisiva nessa
história – destaca Bueno.
Segundo o jornalista, o
propósito principal do dicionário vai ao encontro de algo que ele costuma
repetir: a Independência foi mais uma das ocasiões em que o Brasil mudou para
continuar igual.
No livro, ele aponta que
país ficou independente, mas não só se manteve uma monarquia (ao contrário dos
países vizinhos, ex-colônias espanholas que optaram pela república), como
também permaneceu sob o comando de um soberano português. Além disso, o país
independente preferiu não abolir a escravidão.
– A Independência do Brasil
foi mais uma vez uma articulação da bancada ruralista (risos). Foi uma
articulação de grandes proprietários, de grandes latifundiários, para que se
mantivesse a escravidão. Dom Pedro I nunca mexeu uma palha para acabar com a
escravidão – pontua.
E o papel do povo na
Independência do Brasil?
– Olha, nenhum. Foi uma
articulação de elite. Quando houve batalhas contra os portugueses após o Grito
do Ipiranga, o povo teve uma participação heroica, com sangue. Mas esse povo
que lutou não recebeu nada. A ordem social se manteve intacta:
exclusivista e estratificada.
No verbete "Independência",
Peninha conclui: "Como quer que seja, uma coisa é certa: só é realmente
livre o povo que conhece – e por isso constrói – a própria história".
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