O que a
sociedade espera de um licenciado?
Cristina Maria Rosa
A sociedade
contemporânea demanda, de acordo com os fundamentos pedagógicos balizadores do
documento que deu origem à Base Nacional Comum Curricular[1], “um
olhar inovador e inclusivo a questões centrais do processo educativo”. Assim, “o
que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de
aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado” são temas cruciais e
típicos do rol de conhecimentos que a disciplina Teoria e Prática Pedagógica
deve abordar na formação de professores nas licenciaturas da UFPel.
O perfil previsto para profissionais
licenciados[2],
no Brasil, é o definido pela BNCC. Nos fundamentos pedagógicos do documento se
encontra o conceito de competência,
adotado pela BNCC como “marca” da discussão pedagógica e social das últimas
décadas.
Para a BNCC, desde as
décadas finais do século XX e ao longo deste início do século XXI, “o foco no
desenvolvimento de competências tem orientado a maioria dos Estados e Municípios
brasileiros e diferentes países na construção de seus currículos”. Apesar de
controverso, é este enfoque que tem sido adotado nas avaliações internacionais
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
coordena o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), e da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
que instituiu o Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da
Educação para a América Latina (LLECE).
Ao adotar esses
protocolos, a Base Nacional Comum Curricular indica que “as decisões
pedagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de competências”.
Assim, por meio da
indicação clara dos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que os alunos
devem “saber” e “saber fazer”, prepondera na BNCC a “mobilização desses
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas
da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”.
Brasil
a e BNCC
Na BNCC Ensino Médio[3], encontramos
a área de Ciências da Natureza e suas
Tecnologias (página 537), que definem as Competências específicas de
Ciências da Natureza e suas Tecnologias para o Ensino Médio (página 539) e as
competências específicas e habilidades (página 540) e a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
(página 547), que define as Competências específicas de Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas para o Ensino Médio (página 558) e Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas no Ensino Médio: competências específicas e habilidades (página 559).
Essa é a lei que rege
todas as proposições curriculares no País, desde a escola básica até a formação
de professores nas Universidades. Apesar da relativa autonomia curricular
defendida e empreendida pelas Licenciaturas, há um consenso de que um
profissional, em termos gerais, tem de ter algumas habilidades. Quais seriam?
Conhecimentos
e habilidades
Desejado pela
sociedade (familiares, escolas, estudantes, pares, sistemas de ensino), o
licenciado, oriundo do ensino superior, que exercerá a docência após a
conquista do diploma, deve ser capaz de dominar princípios gerais e fundamentos
da sua área de estudos. Além disso, é esperado que seja capaz de descrever e
explicar fenômenos, processos e equipamentos tecnológicos em termos de
conceitos, teorias e princípios. Ao diagnosticar, formular e encaminhar a
solução de problemas experimentais e teóricos, práticos ou abstratos, fazendo
uso dos instrumentos apropriados, é almejado que seja capaz de propor e
elaborar projetos de pesquisa na área, mantendo atualizada a sua cultura
científica geral e técnica específica.
Ao observar programas
de Licenciaturas no Brasil, observei que muitas delas imaginam que o licenciado
seja capaz de desenvolver uma ética de atuação profissional, uma vez que, no
Ensino Superior, entra em contato com a ciência como conhecimento histórico,
desenvolvido em diferentes contextos sociopolíticos, culturais e econômicos.
Assim, se almeja que
os licenciados consigam problematizar, juntamente com os estudantes, um grupo
de fenômenos sociais e mediatizar o processo de ensino-aprendizagem, assumindo
um papel de orientador das atividades propostas, sendo um elemento motivador e
incentivador do desenvolvimento dos aprendizes.
Ao buscar o domínio
do processo de ensino de sua ciência, o licenciado deve ser capaz de estabelecer
diálogo entre a sua área e as demais áreas do conhecimento no âmbito
educacional, ou seja, na escola e na sociedade.
Pode, como valor
agregado, articular ensino e pesquisa na produção e difusão do conhecimento se
for capaz de desenvolver metodologias e materiais didáticos de diferentes
naturezas, coerentemente com os objetivos educacionais almejados por ele, pela
área, pelo grupo e/ou pela escola onde atua.
Ao utilizar a
linguagem científica na expressão de conceitos, na descrição de procedimentos
de trabalhos científicos e na divulgação de seus resultados, estará articulando
atividades de ensino com a pesquisa e a propagação de conhecimentos.
Planejar, executar e
avaliar propostas pedagógicas de sua área em confluência com as demais, na
escola, é uma das habilidades esperadas de um docente oriundo do Ensino
Superior que, desse modo, pode atuar propositivamente na busca de soluções
políticas, pedagógicas e técnicas para questões propostas pela sociedade.
Cabe ainda, ao
docente, planejar, desenvolver e avaliar os processos de ensino e de
aprendizagem nos níveis de ensino fundamental e médio.
Parece muito?
É muito.
Mas...
É impossível?
Questões
para pensar e primeira tarefa:
1.
Quais as habilidades típicas do
exercício da profissão “professor”? Faça uma lista...
2.
Quais as habilidades típicas do
exercício da profissão “professor de física”, “professor de história”? Componha
uma lista...
3.
Tarefa: Leia a BNCC na sua área para a
discussão na próxima aula.
[1] Resolução do Conselho Nacional
de Educação – Resolução nº 4, de 17 de dezembro de 2018. Publicada no Diário
Oficial da União em 17 de dezembro de 2018. Disponível em: http://estaticog1.globo.com/2018/12/18/DiarioOficialUniao.pdf?_ga=2.129165450.768343636.1601999848-1139822549.1591717229
[2] Perfil profissional inclui três grupos de habilidades:
cognitivas, técnicas e atitudinais/comportamentais, de acordo com Sonia Gondim
em: Perfil
profissional e mercado de trabalho: relação com formação acadêmica pela
perspectiva de estudantes universitários. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2002000200011
Nenhum comentário:
Postar um comentário