segunda-feira, 12 de outubro de 2020

12 de outubro: Dia Nacional da Leitua


Leitura de Literatura: ser o que se é...

Cristina Maria Rosa

 

 

A literatura é uma arte.

Para quem escreve e para quem frui.

A literatura é um fenômeno da criatividade, para Nelly Novaes Coelho (1991).

É um direito ainda não escrito, para Bartolomeu Campos de Queirós.

É a Literatura que nos torna humanos e só a ficção nos salva, disse Tzvetan Todorov (2013) em entrevista a Bruno Garcia (2013).

A literatura integra a cultura escrita, uma de nossas maiores conquistas antropológicas, escreveu ROSA (2017).

A literatura é uma experiência estética, cujo resultado seu criador quer fazer único e inconfundível, com marcas que ele gostaria que fossem percebidas pelo leitor como pegadas no caminho da leitura, de acordo com Maria Antonieta Antunes Cunha (2014).

A literatura pressupõe assumir que a linguagem é uma “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida” (BAGNO, 2014, p. 192).

A literatura é uma das formas de produzir sentido e pode ser conceituada como “um fenômeno social, uma forma de ação e de interação social”. Assim, “produzir um texto significa dizer algo a alguém, por algum motivo, de algum modo, em determinada situação” (FIAD & VAL, 2014, p. 264).

A literatura exige um “leitor proficiente”, aquele que não só “decodifica as palavras que compõem o texto escrito”, mas, também, “constrói sentidos de acordo com as condições de funcionamento do gênero em foco”. Para tal, mobiliza “um conjunto de saberes sobre a língua”, representado por “outros textos, o gênero textual, o assunto focalizado, o autor do texto, o suporte e os modos de leitura”, de acordo com Da Mata (2014, p. 165).

A literatura e sua fruição demandam um experiente da espécie que, ao exercer o ofício de mediador, “crie as condições para fazer com que seja possível que um livro e um leitor se encontrem”, em “rituais, momentos e atmosferas propícias” (REYES, 2014, p.213).

A leitura de literatura oportuniza o contato com o texto literário que, apesar do tempo e do mediador, mantém-se inalterado, com o léxico, a estrutura textual e as escolhas poéticas, filosóficas, éticas – todas – do autor. Neste caso, é preservada a experiência estética com o texto produzido, única para cada sujeito leitor ou ouvinte, para Cristina Maria Rosa (2017)

A literatura é uma experiência estética literária como a soma da percepção/apreensão inicial de uma criação literária e das muitas reações (emocionais, intelectuais ou outras) que esta suscita (...) para Maria Antonieta Antunes Cunha (2014).

A leitura de literatura é um “modo muito singular de construir sentidos”. Oportuniza uma “intensidade” de interação com “a palavra que é só palavra” e uma experiência “libertária de ser e viver”, de acordo com Rildo Cosson (2014, p. 185).

A escrita literária tem três características fundamentais: “ela é coisa na/da linguagem, aquilo que na/da linguagem não é discurso, mas silêncio”, a escrita ou a leitura de um texto literário “é uma actividade que rompe (no sentido violento) o laço social” e, esta ruptura “tem um alcance e um valor sexuais”, de acordo com Cristina Álvares (2004, p. 1).

A leitura de literatura é uma  experiência rigorosamente pessoal para o leitor quanto a criação é para seu autor Maria Antonieta Antunes Cunha (2014).

 “Prática cultural de natureza artística”, para Paulino (2014, p. 177), a leitura do texto literário se diferencia por oportunizar contato com “outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”.

Nas palavras de Todorov (2013): “A importância da Literatura não é o método ou teoria coma qual a estudamos, mas é a própria Literatura. Porque ela fala de nós mesmos, da condição humana, da nossa sociedade. Ela nos permite compreender melhor o mundo. Quando lemos um livro, está lá o que é mais importante”. 

Ler...

Ler é diferente de contar.

Não é mais, nem menos. É diferente. Na escola, a criança – aprendiz da espécie humana que através da fala e pela escrita aprende a organizar o pensamento – acessa, com a audição de histórias lidas, contatos e aprimoramentos das relações com a cultura escrita, uma de nossas maiores conquistas antropológicas. Ler para os pequenos desde tenra infância, então, é inseri-los no que de melhor produzimos como “sapiens”: a escrita autoral ou, um modo particular de ver/sentir/narrar o mundo e, um bom mediador, dá nome a quem de direito: ao autor, a autoria; ao mediador, os sentimentos todos que encontrou ali e quer perpetuar, divulgar, evidenciar.

 No texto Experiência e Pobreza, o filósofo Walter Benjamin (1933), disserta sobre a perda da capacidade de contar histórias – e de, com elas, dar ensinamentos morais através do intercâmbio de experiências –, ocasionada pela dissolução dos vínculos familiares e pelo empobrecimento de experiências comunicáveis da população.

Para concluir...

Gustavo Bernardo elaborou o seu “conceito de literatura” e o publicou, com outros pesquisadores, na obra Introdução aos termos literários, organizada por José Luis JOBIM e publicada pela Editora 34 em 2002. Leia:

 

"A ficção, a literatura, fazem mais do que ampliar as nossas perspectivas, ao mapearem a realidade, anunciando territórios inexplorados e desconhecidos; a ficção e a literatura nos permitem viver o que de outro modo talvez não fosse possível, ou seja, nos permitem ser outros (os personagens) e adquirir, ainda que momentaneamente, a perspectiva destes outros – para, adiante, termos uma chance de cumprir o primado categórico de todas as éticas, de tão difícil realização: ser o que se é".

 

Nota: A entrevista de Todorov pode ser encontrada em: http://www.academia.edu/8584274/Entrevista_com_Tzvetan_Todorov


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