segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Livros para bebês: uma lista...

 


Livros para a primeira infância: sugestões

Cinara Tonello Postringer;

Paloma Evelise Wiegand

Cristina Maria Rosa

 

O foco da investigação foi conhecer quantas há e quais são as obras literárias indicadas a serem lidas para bebês entre zero e quatro anos disponíveis no acervo da SLEV – Sala de Leitura Érico Veríssimo. A investigação está sendo desenvolvida desde março de 2019 e justifica-se pela necessidade de delimitar um corpus adequado à Alfabetização Literária de crianças que frequentam escolas públicas no Município de Pelotas, uma das atividades do PET Educação.

A primeira infância é uma fase muito importante para o crescimento da criança e, quanto melhores forem, as circunstâncias de vida durante este período, maiores serão as probabilidades de que ela se torne um adulto mais equilibrado, produtivo e realizado. A alfabetização literária pode ser entendida como um processo de “apresentação da literatura  a todos” e, de acordo com ROSA (2019), significa que a formação do gosto por ler literatura é um processo que não pode ser aleatório, eventual e desprovido de critérios.

Para Debus (2015), os critérios de seleção de livros literários destinados a crianças “levam em consideração, na maioria das vezes, os estágios de desenvolvimento infantil, obedecendo à faixa etária ou à faixa escolar do leitor”. A pesquisadora informa que, quando se trata de crianças pequenas, entre zero e seis anos de idade, “existem algumas especificidades nos critérios que orientam o acesso e a escolha dos livros” e que eles são importantes por dois motivos: a maior parte das crianças ainda não está no espaço escolar e é uma leitora em formação.

Para Abramovich (1997), a literatura tem linguagem fluida e aborda os problemas de modo discursivo e indica critérios a serem adotados quando da escolha de obras, entre eles, ter como princípio que a formação do leitor inicia pela audição de muitas histórias, escolher inicialmente histórias curtas e bem humoradas, inteligentes, criativas, que surpreendem e investir na escolha de obras a serem lidas pelos leitores, observar de forma crítica como os personagens são representados nas ilustrações, especialmente os pobres, as mulheres, os indígenas, japoneses e negros, as mães, tias e professoras. Além disso, considera importante priorizar a presença de humor, o deboche saudável, a ironia, o nonsense, a presença de personagens nada comuns e preferir obras com presença da lógica da criança. Abramovich também argumenta pela inserção da poesia “boa, bem escrita, que mexe com a emoção, que nos aguça, que nos deixa um pouco diferente depois de cada verso”, propor obras que oferecem informação e verdade, pois “entender o processo de como nascemos até quando morremos faz parte natural da curiosidade da criança” e ler integralmente os “Contos de Fadas” pela abordagem do amor em todos os seus prismas: descoberta, encanto, possibilidade, entrega, plenitude, sofrimento, angústia, injustiça, tristeza, obstáculos, dúvidas, identidade, rejeição, perdas, esquecimentos, revelações de sexualidade, da vida e da morte.

Para Nelly Novaes Coelho (1993) a categoria leitora está vinculada a três fatores: “idade cronológica, nível de amadurecimento biopsíquico-afetivo-intelectual e grau ou nível de conhecimento/domínio do mecanismo da leitura”. Assim, indica compor um acervo a partir da seguinte divisão: 1) pré-leitor (primeira infância que inclui bebês dos 15/17 meses aos 3 anos e, segunda infância, com crianças a partir dos 2/3 anos); 2) Leitor iniciante ou crianças a partir dos 6/7 anos; 3) Leitor em processo ou crianças a partir dos 8/9 anos; 4) leitor fluente ou criança a partir dos 10/11 anos e 5) leitor crítico, já um pré-adolescente a partir dos 12/13 anos.

Para Maria Betty Coelho Silva (1991), devem ser respeitadas as peculiaridades e os estágios emocionais das crianças na escolha dos livros. “Alimento da imaginação”, as histórias precisam respeitar a “estrutura cerebral” infantil. A autora faz um quadro demonstrativo de interesses, no qual divide os leitores em pré-escolares e escolares. E divide os pré-escolares em duas fases: a pré-mágica (crianças até três anos) e a mágica (crianças de três a seis anos). Aconselha para os primeiros, histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza (humanizados), história de crianças. Para os demais, histórias de repetição e acumulativas, além de histórias de fadas.

Pouco estudados no século XX, esse grupo de leitores em formação (bebês em sua maioria não escolarizados) eram pouco visados pelas políticas públicas e pela indústria do livro. O comum é que Editoras criassem brinquedos que imitavam livros como os de pano, de borracha, de plástico e outros materiais resistentes ao tato, ao gosto, à água, à falta de traquejo das mãos infantis. Em fins do século XX e início do XXI, a presença intensa de bebês nos berçários e escolas infantis desencadeou estudos com o intuito de prescrever quais seriam os livros que poderiam ser utilizados na alfabetização literária dessas crianças. Para Abramovich (1989), Coelho (1993) e Silva (1991), deveriam ser livros lidos por adultos para as crianças, ilustrados, bem humorados, poéticos. E deveriam conter histórias sobre bichos, brinquedos, objetos, seres da natureza, histórias de repetição e acumulativas. Obras com predomínio da fantasia como contos de fadas, mitos, lendas e fábulas e atitudes como o desenvolvimento da apreciação critica da leitura são recomendados. Pouco texto, muita gravura, cor e, em alguns casos, sons também foram sugeridos e apareceram no mercado. Livros de panos, livros-brinquedos e somente de imagens aparecem com frequência nos catálogos de Editoras, indicando que o mercado é eficaz em enganar o consumidor.

Rosa (2019) argumenta que a criança pequena não pode ser subestimada e sugere que a leitura pode ter início assim que ela ficar ereta, sentada no colo do adulto, na cadeirinha ou no “bebê-conforto”. Para tal, o leitor (mãe, irmão mais velho, professora, cuidadora) deve escolher um excelente texto que pode ou não ser ilustrado. A autora defende que durante a leitura do texto escolhido, o som da voz e os ritos da leitura (escolher, abrir folhear, indicar imagens, fechar, guardar) são formadores desse leitor em potencial, tornando a leitura “de verdade” e não apenas imitação ou distração. Para a autora, o livro não é um brinquedo: é o artefato mais importante da cultura escrita e a leitura seus atributos e sentidos podem ser adquiridos desde tenra idade.

A pesquisa...

A pesquisa em acervos integra-se à abordagem qualitativa, embora conhecer a quantidade de obras em um acervo seja considerado um procedimento quantitativo. Assim, a investigação que estamos realizando pode ser considerada uma mescla entre as duas abordagens. A metodologia de pesquisa é descrita por Minayo (2002, p. 16) como a confluência de “concepções teóricas de abordagem”, “conjunto de técnicas” que possibilitam a observação e análise da realidade e a influência do “potencial criativo do investigador”. Para a autora, a pesquisa qualitativa “responde a questões muito particulares” e se preocupa com “um nível de realidade que não pode ser quantificado” (MINAYO, 1994, p. 21). De acordo com essa abordagem, optamos por procedimentos que, primeiro, sustentassem teoricamente a investigação. Assim, conceituar infância e alfabetização literária foi primordial. Logo depois critérios de escolha de obras adequadas às crianças nesta faze foram explorados em uma revisão de bibliografia.

Para realizar a investigação que tem como foco conhecer quantas há e quais são as obras literárias indicadas para bebês entre zero e quatro anos disponíveis no acervo da SLEV, em um segundo momento o procedimento foi inventariar o acervo considerando a quantidade de obras e seus temas/títulos, ou seja, considerar o aspecto quantitativo na coleta de dados. O intuito foi delimitar um corpus adequado à Alfabetização Literária de crianças entre zero e seis anos que frequentam escolas públicas no Município de Pelotas, ou seja, compor uma lista de obras interessantes, propícias, representativas de diferenciados gêneros, entre outros aspectos, para o trabalho de leitura na escola.

Logo depois, investimos em: a) selecionar um grupo de indicados aos pequenos, entre zero e seis anos de acordo com os critérios desenvolvidos por Nelly Novaes Coelho (1993) e Maria Betty Coelho Silva (1991); c) ler todos os selecionados; d) categorizar as obras quando aos critérios de ROSA (2018); e) Compor a lista referencial de literários para a primeira infância; f) escrever as conclusões.


Alguns resultados...

A aquisição de obras que deram início ao acervo iniciado em 1995, foi inspirada nos critérios desenvolvidos por Fanny Abramovich (1989) e Nelly Novaes Coelho (1993). Para as autoras, a criança que se encontra na primeira infância (entre zero e seis anos) é o potencial leitor ou pré-leitor. Com a formação adquirida em 24 anos de estudo na área, o desenvolvimento de práticas de leitura com pequenos, a profusão de novos autores e ilustradores mais as profundas modificações no Mercado Editorial, a professora Cristina Rosa afirmou que, atualmente, a SLEV abriga e disponibiliza seis acervos: a) Livros sobre a Literatura e seu ensino; b) Obras de Literatura Universal, como Poesia Completa (Cecília Meireles) e Obras Completas (Jorge Luis Borges); c) Obras de Literatura Infantil (maior acervo, possui em torno de 1200 títulos entre Clássicos e Modernos, com ênfase para os brasileiros; d) Obras de Literatura Infanto-Juvenil, uma Gibiteca e uma coleção de banners, que apresenta a história da sala.

Descobertas...

E o que descobrimos quando inventariamos o acervo composto por Obras de Literatura Infantil? Do montante (1200 livros), selecionamos os cem livros mais instigantes. São textos literários, parte em prosa, parte em verso, alguns híbridos, a maioria ilustrados e com pouco texto. Entre eles estão: 1. A coleção Miolo Mole, de Eva Furnari; 2. Toda a obra infantil de Erico Verissimo (A Vida do Elefante Basílio, As Aventuras do Avião Vermelho, Rosa Maria no Castelo Encanteado, Os três porquinhos pobres, Outra vez os três porquinhos e O urso com música na barriga); 3. A poesia de diversos autores, entre eles, Cecília Meireles (Ou isto ou aquilo), Chico Buarque de Olanda, Carlos Drumond de Andrade, Gonçalves Dias, Henriqueta Lisboa, José Paulo Paes (É isso ali), Mario Quintana (Lili inventa o mundo, Sapato Florido, Sapo Amarelo e Pé de Pilão) Olavo Bilac e Vinícius de Moraes (A arca de Noé); 4. A Coleção Familiares, de Nelson Albissu (Mães e Pais, Tios e tias, Avôs e avós...); 5. A coleção Série Fantástica de Leila Luri Bergman; 6. Títulos imperdíveis como A Velha, a mosca e a narrativa de Cristina Maria Rosa; A zeropéia de Herbert de Souza; De letra em letra de Bartolomeu Campos de Queirós, O Rato roeu a roupa, de Ana Maria Machado e Vamos brincar com as palavras, de Lúcia Pimentel Góes.

Concluindo...

Com a pesquisa pudemos perceber que, no passado, quando se abordava a temática da infância em casa e na escola e os livros indicados a estas infâncias, não havia consenso e nem mesmo critérios para orientar pais e professores. Com o advento das teses sobre o tema, iniciados pelo trabalho de Nelly Novais Coelho no Brasil, todos ganharam: as crianças, os professores, as escolas, os cursos de formação de professores, as bibliotecas, as editoras e até mesmo as políticas públicas. Não basta mais apenas ler. O que ler, como, qual livro e quando integram os saberes acerca da leitura para os pequenos. Dada a importância do assunto, é preciso desenvolver saberes mais profundos, especialmente nos cursos de formação de professores, uma vez que é essa profissão a responsável por alfabetizar literariamente na sociedade. Salientamos que o conhecimento gerado ao longo de uma vida dá-se coletivamente, principalmente se estivermos falando de uma atividade cognitiva exclusiva da espécie humana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário