quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Alfabetização literária: um verbete

Alfabetização literária: passinhos na formação do leitor

Cristina Maria Rosa

 

Conceito grafado por mim pela primeira vez em 2016, a alfabetização literária vem sendo uma prática que desenvolvo desde 1995, quando dei início a um processo familiar de formação de um leitor que hoje atingiu a maturidade, caracterizada por mim como intensidade, diversidade, fluência, independência, autonomia e gosto literário próprio. Por isso mesmo, me atrevo a grafar o conceito e busco, em outras relações, oferecer princípios e procedimentos para que estes saberes extrapolem minhas conquistas pessoais e indiquem generalizações possíveis e mesmo desejáveis, uma vez que se trata de um campo de saber visceral para o cérebro humano e para a escola, em especial. 

Uma das inteligências a ser desenvolvida ainda na infância, a alfabetização quanto à linguagem verbal é um processo que demanda pensamento, atitude, avaliação. Ininterruptamente. Assim, deve ser mediada por atitudes de escolha de procedimentos e artefatos cada vez mais sofisticados que exigem comprometimento do adulto com a criança que está sendo iniciada.Artefatos culturais – livros, e-books, cd’s, revistas, vídeos, jogos, brinquedos – precisam ser acionados e seus conteúdos mediatizados através de leituras, diálogos, indicações, compartilhamentos, trocas de impressões. A diferença que há entre jogar só ou em grupo, todos nós adultos, já conhecemos. No processo de aquisição de saberes, para a criança, é imprescindível a companhia.

Mas, sim, a alfabetização literária é, também, um processo particular, ou seja, é vivida individualmente por cada sujeito a ela submetido que, necessariamente, atribui valores e sentidos muito próprios ao acontecimento, ao jogo e a suas regras, nem sempre os mesmos atribuídos por seu "professor".

Mas, o que é, para mim, alfabetizar literariamente uma pessoa? Como conceituo a alfabetização literária?

Compreendo a Alfabetização Literária como um processo de apresentação do mundo da literatura ao outro. Um processo que pressupõe três atores:

ü    um sujeito que deseja – o futuro leitor, a quem a apreciação deve ser ensinada, uma vez que o gosto pela leitura não é um atributo genético;

ü    um sujeito que ama – o leitor e suas práticas leitoras;

ü    um objeto de desejo: o livro, a literatura.

 

O processo – a alfabetização literária – acontece em um “pacto”, vivido no texto não escrito (Queirós, 2011): um diálogo proposto pelo autor ao leitor. Ao mesmo tempo insondável e experimentação, a obra não escrita, a interação, é que revela o literário do pacto e “produz” a obra literária, ao mesmo tempo em que inicia o sujeito nos “segredos” da leitura.

Para a completude do processo, é interessante que exista no mediador a capacidade de selecionar “livros que fascinam” e a compreensão de que a leitura literária pressupõe “uma prática cultural de natureza artística” na qual a “interação prazerosa” com o texto lido é estruturante. Para Graça Paulino (2014) a “dimensão imaginária” garante a invenção de “outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”.

Um desejo - ensinar o gostar de ouvir e ler - deve orientar todo o processo.

A certeza de que, maduro, o leitor pode escolher outros laços, outras letras, outras fontes, integra o desprendimento necessário e bem vindo de parte de quem alfabetiza.

E os bebês?

Bebês possuem repertório literário? Se sim, como podemos ampliá-lo? Se não, como podemos inserir nosso bebês em práticas de leitura literária? A quem cabe esta tarefa? Pais? Professoras? Cuidadoras? Avós? Irmãos mais velhos?

Evidências...

Há indícios que levam a evidências revelados por comportamentos espontâneos de bebês com os livros que integram seu “repertório literário”. Embora pareça cedo mencionar repertório quando se trata de um bebê, as atitudes deste em relação aos livros indicam se já foi apresentado ou não a práticas culturais nas quais o livro é protagonista.

O que observei, em pesquisa que venho desenvolvendo com bebês entre zero e três anos desde 2015, é que há gestos, ritos, modos de ter contato com o livro mesmo quando o bebê indistingue o artefato cultural de qualquer outro objeto. Esses modos de manipular o objeto independem de sua idade cronológica e revelam o quanto familiarizado o bebê está com livros e modos de ler.

Em muitos casos, o bebê confunde o livro com um objeto qualquer, como um chocalho, bola ou uma boneca, por exemplo. E inicia sua exploração com os saberes que têm. O primeiro gesto que observei foi tocar e bater sobre o livro. Ele busca sentir as dimensões do objeto.

Logo depois, o bebê está em busca de um modo de pegar e aproximar o livro de si e da boca – fonte conhecida de sensações. Após bater, tocar, pegar a aproximar, o bebê leva o livro à boca, evidenciando que não conhece, não foi apresentado ao livro como objeto cultural.

Pode também ocorrer de o bebê, ao “pegar de qualquer jeito”, amassar, sacudir, virar, rasgar, jogar fora, afastar, descartar, abandonar, guardar na embalagem. Ao tentar olhar e ou folhear, se ainda não sabe ou não consegue, pode acontecer dele folhear de “atrás para frente”, ou pegar várias páginas ao mesmo tempo, folheando “a grosso modo”. São indícios de que ao bebê, ainda não foram disponibilizados os rudimentos do comportamento leitor, atitudes prévias e imprescindíveis para a alfabetização literária, que ocorre entre zero e onze anos.

Entre os bebês que já foram apresentados ao livro como objeto central da cultura escrita, as atitudes são diferentes e, de forma mais intensa, também manifestam seu repertório de informações sobre o livro, a leitura e a literatura.

Entre as evidências do comportamento adquirido – quando o bebê indica perceber os ritos no trato com o livro – pude observar que o bebê costuma folhear e ajudar o adulto a folhear.

 

Quando este está lendo, ouve com atenção. Se lhe é oportunizado, segura sozinho o livro, imitando a ação do adulto. Quando permitem, escolhe o que quer que leiam, abre, observa, fecha, troca, guarda. Eventualmente, reclama se o livro se fecha e comemora ter encontrado algo conhecido em alguma página ou capa.

Ao apontar o livro ou imagens nele, indica ao adulto que o livro está danificado (riscado, rasgado, amassado), responde a perguntas olhando e/ou apontando para imagens ou cenas ou escritos, e balbuciar, exclamar, por a mão na cabeça e “ler” em voz alta, com entonação, são alguns dos indícios de que o bebê sabe claramente quais os ritos esperados quando objeto em interação é o livro.

Percebi que alguns bebês estranham quando o livro é desconhecido, mas podem comparar, descartar, fechar ou devolver ao dono, se não querem a interação com aquele livro, por exemplo.

Procedimentos para produzir um repertório literário para bebês.

A “apresentação” do livro e de “ritos do ler” dá início à formação do leitor literário já na primeiríssima infância, nem sempre oportunizada no ambiente familiar, devendo necessariamente ocorrer na escola. No processo, a escolha criteriosa de livros e a integração dos bebês ao comportamento leitor são preponderantes.

Para que tenhamos disponível um repertório a oferecer, é importante se cercar de narrativas familiares que prepararam a chegada deste bebê ao mundo. Assim, as primeiras histórias e serem narradas, oralmente, ao bebê, são as que integram a sua vida. Logo depois, deve-se agregar a essas, as dos demais sujeitos que habitam o seu mundo: irmãos, avós, tios e tias, pai e mãe...

Os livros - de todos os gêneros - podem ser apresentados desde sempre e logo que o bebê fique ereto em seu colo, coloque a sua frente, um livro aberto. Contenha o bebê com teu braço esquerdo e leia para ele, deleitando-se também com o que vê, conhece e sente.

Pronto.

É assim que se inicia.

Depois disso, amplie e diversifique seu acervo.

Não esqueça os ritos, tão importantes quanto os conteúdos literários neste momento: olhar, escolher, folhear, ler, observar, discriminar, evidenciar, relacionar, cuidar, fechar, guardar. Todas essas práticas integram a formação do leitor desde a primeiríssima infância e logo, logo, o pequeno terá seus prediletos.

E por falar em dicas...

Minhas sugestões para a escolha de livros estão baseadas em minha experiência pessoal. Estudiosa da área e leitora voraz de literatura escrita para crianças há 26 anos, sugiro ler antes de comprar. Sempre. É a dica mais importante.

A segunda dica é: conheça o seu público ou para quem você vai ler. Isso ajuda a escolher um gênero, um título, um autor...

Os outros critérios que utilizo na escolha de uma obra são:

Autor: escolha um brasileiro respeitado, indicado por outros leitores, premiado, que as crianças gostam...

Gênero: narrativas, poesia, fábulas, lendas, cordel, história em quadrinhos, terror, biografias, abecedários, recontos...

Editora: Brasileiras que investam em formato, cor, durabilidade, evidência de autoria, qualidade do texto e da imagem, durabilidade do impresso, paratextos de qualidade...

Quem indica: se um conhecedor indicou, se confias em quem leu, se há uma lista que a professora disponibilizou, considere, leve em conta, vá por eles. Quem lê adora indicar livros aos demais, mas não custa nada ler antes...

Valor: entre dois bons livros, escolha aquele que tem custo/benefício mais evidente. Exemplo: Um livro com 92 poemas é mais importante que um livro com apenas uma narrativa se os dois custam a mesma coisa ou têm preços similares;

Ilustração: um livro com um excelente ilustrador tem seu valor. Afinal, a arte literária pode ser acompanhada das artes plásticas...

 

Apaixonamento: confie em ti. Ao apaixonar-se por um livro, indique, releia, faça circular.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Trinta e um de outubro em poesia...

 


Dia da Poesia

Cinara Postringer

 

Hoje podemos considerar um dia especial, um dia para pensarmos um pouco na poesia, um tema literário consagrado e reconhecido como gênero lírico. Na literatura, a poesia é conhecida como a arte de compor ou escrever versos. Nela prevalece a estética da língua sobre o conteúdo, de forma que utiliza diferentes dispositivos fonéticos, semânticos e sintáticos. Desse modo, auxilia na aquisição da linguagem, desenvolvimento de habilidades da escrita e do pensamento crítico.

A poesia estimula os pequenos desde cedo na prática de leituras, mas será que todos os brasileiros sabem o que é poesia?

E por que esse dia é comemorado?

No Brasil, no dia 31 de outubro comemora-se o dia Nacional da poesia, sancionado pela lei de número 13.131, de 3 de junho de 2015. Essa data foi escolhida por ser o nascimento de Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro que é também importante contista e cronista do século XIX.

Anos antes de 2015, essa data era comemorada no dia 14 de março, em homenagem ao poeta Antônia Frederico de Castro Alves. Porém, esta celebração não era oficializada e a mudança da data ocorreu para definir e marcar um dia só para quem ama a poesia.

O projeto com a proposta de mudança foi sugerido pelo Senador Álvaro Dias, desde então a data e a homenagem aos poetas, em geral, também serve para lembrar a riqueza e importância cultural que a arte poética representa, busca incentivar a leitura desse gênero literário que nos demonstra sentimentos, emoções, é tudo aquilo que nos cerca e nos comove, é harmonia, encanto, sensibilidade, amor e vida que nos enche de emoções, ler, nos apresenta um mundo novo e mágico, nos traz sabedoria e encantamento.

Rimas?

Versos?

Estrofes?

Do que é composta a poesia?

Nem sempre a poesia é escrita em versos e com rimas.

Mário Quintana, por exemplo, em suas poesias para adultos e crianças não traz muitas rimas, ele nos apresenta uma poesia mais individual caracterizada pelo humor, e pela simplicidade.

Outro exemplo de poesia que extrapola essas generalizações é a escrita poética de Cecília Meireles que, com temas universais, atemporais, revolucionou o que a soceidade brasileira entendia por poesia no século XX.

Também temos Vinícius de Moraes que nos mostra uma mistura lírica, simplicidade, formas clássicas de escrita, e motivos populares que levaram a musicalização, como, por exemplo, “A Casa” que está escrita em um dos seus livros com escritas infantis.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Pauta estudantil: por uma FaE Dialógica e Inclusiva!

 

Pauta estudantil:

por uma FaE Dialógica e Inclusiva!

Ana Lúcia Rodrigues de Oliveira

Daniel Borba e Ávila

Larissa Mendes

Michele Duarte Huch

 

 

No domingo, dia 18 de outubro, um grupo de discentes da Licenciatura em Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação se reuniram. O foco foi reunir em uma pauta, as demandas estudantis à FaE Dialógica e Inclusiva.

Envolvidos no apoio à Candidatura de Antônio Maurício e Vania Grim Thies à Direção da Faculdade de Educação da UFPel, pleito que inicia hoje e terá os resultados revelados na quinta, dia 22/10, durante duas horas o diálogo gerou um clima de reinvenção de desejos e projetos  dos estudantes que circulam ou já circularam nos corredores e salas de aula da FaE.

O que desejam os estudantes?

1.               O fortalecimento do Diretório Acadêmico: com o intuito de dar voz e vez aos estudantes. O grupo pensa que estudantes devem ser autores de suas demandas e percebem que este objetivo está proposto no Plano de Gestão da FaE Dialógica e Inclusiva:


Apoiar ações de existência e resistência junto ao Diretório Acadêmico da Faculdade de Educação (DAFE), bem como junto aos representantes dos cursos de Pós-Graduação”.

 

2.          Oportunizar espaços de ensino, pesquisa e extensão para os alunos do primeiro semestre, refletindo, por meio do diálogo, com o sujeito discente. Como a FaE/UFPel pode auxiliá-lo no seu processo de construção do conhecimento? Para responder, é importante construir este vínculo desde o início do curso, evitando, por falta de comunicação, o desinteresse e a evasão. No Plano de Gestão da FaE Dialógica e Inclusiva, esse tema foi tratado:


Apoiar projetos de ensino, pesquisa e extensão que promovam, sobretudo, a inclusão, a democracia e a pluralidade de ideias”.

 

 

3.          A revisão de disciplinas, seminários, palestras, workshops, entre outras ofertas de conteúdos e formatos no âmbito da Educação Especial. Hoje, a sensação é que os discentes que concluem a Licenciatura em Pedagogia tem parca ou inadequada formação para atender crianças e jovens especiais. No Plano de Gestão da FaE Dialógica e Inclusiva, esse tema foi assim abordado:


Fomentar a implantação dos novos currículos dos cursos de pedagogia diurno e noturno, considerando a pluralidade de público e demandas”; e “Dar suporte para a qualificação dos cursos de pedagogia diurno e noturno”.

 

4.          Criar um mapeamento para verificar as demandas de permanência, alimentação, locomoção e acesso ao material da bibliografia básica de disciplinas que os estudantes possam ter. A pluralidade no ingresso demanda que sejamos atentos às necessidades básicas de cada indivíduo, criando, assim, uma mediação entre DAFE e DIREÇÃO na manutenção de um grupo de apoio. Percebemos essa intensão ao ler o Plano de Gestão da FaE Dialógica e Inclusiva, no qual está escrito:

 

Promover ações de acolhimento e diálogo permanente com os estudantes da Pedagogia” e “Contribuir com o desenvolvimento de ações afirmativas e de inclusão, por meio do fortalecimento do diálogo com os coletivos organizados, bem como a Coordenação de Inclusão e Diversidade (CID) da UFPel e os núcleos que a compõem: Núcleo de Gênero e Diversidade (NUGEN), Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) e Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (NUAAD)”.

 

5.          Fomentar a valorização dos professores e egressos da FaE, possibilitando a contribuição destes profissionais com a formação dos estudantes da licenciatura. Acreditamos que relatos de experiência de licenciados e professores da rede podem criar ou potencializar uma “cultura de acolhimento e pertencimento”. Percebemos que no Plano de Gestão da FaE Dialógica e Inclusiva, essa demanda foi pensada:

 

Acompanhar os egressos dos cursos de Pedagogia através de uma avaliação permanente que qualifique a formação inicial e continuada” e “Acompanhar os egressos dos cursos de Pedagogia através de uma avaliação permanente que qualifique a formação inicial e continuada”.

 

 

6.          Gerar e suprir uma nova cultura de interligação entre a Graduação e a Pós-Graduação de forma a criar um laço de construção plural entre as formações. Sonhamos em ampliar o conhecimento e não a disputa!  O Plano de Gestão da FaE Dialógica e Inclusiva pensou nisso, pois deseja:

 

Favorecer a articulação entre a graduação e os diferentes cursos de pós-graduação, promovendo o diálogo entre os estudantes desses cursos”.

 

7.          Criação de salas interativas para convivência e trocas de experiências. Esse desejo está incluso no Plano de gestão da FaE Dialógica e Inclusiva:


“Construir um plano diretor, por meio do diálogo, com as outras unidades do Campus das Ciências Humanas e Sociais, para otimização dos espaços diversos, tais como laboratórios de informática e laboratórios de ensino, considerando as diferentes formas de inclusão, visando a pluralidade das áreas do conhecimento”.

 

Representação discente: mais e mais

Os estudantes reunidos no domingo, dia 18/10, salientam a importância da representação discente na tomada de decisões que dizem respeito à FaE;

Desejam que se ampliem as mobilizações para que mais estudantes estejam presentes nesses espaços de diálogo;

Acreditam que a FaE Dialógica e INCLUSIVA, respeitará e suprirá as demandas discentes;


Voto em FaE Dialógica e Inclusiva!

Por todas as razões e emoções acima expostas, o grupo de estudantes declara: Votamos em Antônio Mauricio e Vânia para nos representarem nos próximos quatro anos!

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

12 de outubro: Dia Nacional da Leitua


Leitura de Literatura: ser o que se é...

Cristina Maria Rosa

 

 

A literatura é uma arte.

Para quem escreve e para quem frui.

A literatura é um fenômeno da criatividade, para Nelly Novaes Coelho (1991).

É um direito ainda não escrito, para Bartolomeu Campos de Queirós.

É a Literatura que nos torna humanos e só a ficção nos salva, disse Tzvetan Todorov (2013) em entrevista a Bruno Garcia (2013).

A literatura integra a cultura escrita, uma de nossas maiores conquistas antropológicas, escreveu ROSA (2017).

A literatura é uma experiência estética, cujo resultado seu criador quer fazer único e inconfundível, com marcas que ele gostaria que fossem percebidas pelo leitor como pegadas no caminho da leitura, de acordo com Maria Antonieta Antunes Cunha (2014).

A literatura pressupõe assumir que a linguagem é uma “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida” (BAGNO, 2014, p. 192).

A literatura é uma das formas de produzir sentido e pode ser conceituada como “um fenômeno social, uma forma de ação e de interação social”. Assim, “produzir um texto significa dizer algo a alguém, por algum motivo, de algum modo, em determinada situação” (FIAD & VAL, 2014, p. 264).

A literatura exige um “leitor proficiente”, aquele que não só “decodifica as palavras que compõem o texto escrito”, mas, também, “constrói sentidos de acordo com as condições de funcionamento do gênero em foco”. Para tal, mobiliza “um conjunto de saberes sobre a língua”, representado por “outros textos, o gênero textual, o assunto focalizado, o autor do texto, o suporte e os modos de leitura”, de acordo com Da Mata (2014, p. 165).

A literatura e sua fruição demandam um experiente da espécie que, ao exercer o ofício de mediador, “crie as condições para fazer com que seja possível que um livro e um leitor se encontrem”, em “rituais, momentos e atmosferas propícias” (REYES, 2014, p.213).

A leitura de literatura oportuniza o contato com o texto literário que, apesar do tempo e do mediador, mantém-se inalterado, com o léxico, a estrutura textual e as escolhas poéticas, filosóficas, éticas – todas – do autor. Neste caso, é preservada a experiência estética com o texto produzido, única para cada sujeito leitor ou ouvinte, para Cristina Maria Rosa (2017)

A literatura é uma experiência estética literária como a soma da percepção/apreensão inicial de uma criação literária e das muitas reações (emocionais, intelectuais ou outras) que esta suscita (...) para Maria Antonieta Antunes Cunha (2014).

A leitura de literatura é um “modo muito singular de construir sentidos”. Oportuniza uma “intensidade” de interação com “a palavra que é só palavra” e uma experiência “libertária de ser e viver”, de acordo com Rildo Cosson (2014, p. 185).

A escrita literária tem três características fundamentais: “ela é coisa na/da linguagem, aquilo que na/da linguagem não é discurso, mas silêncio”, a escrita ou a leitura de um texto literário “é uma actividade que rompe (no sentido violento) o laço social” e, esta ruptura “tem um alcance e um valor sexuais”, de acordo com Cristina Álvares (2004, p. 1).

A leitura de literatura é uma  experiência rigorosamente pessoal para o leitor quanto a criação é para seu autor Maria Antonieta Antunes Cunha (2014).

 “Prática cultural de natureza artística”, para Paulino (2014, p. 177), a leitura do texto literário se diferencia por oportunizar contato com “outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”.

Nas palavras de Todorov (2013): “A importância da Literatura não é o método ou teoria coma qual a estudamos, mas é a própria Literatura. Porque ela fala de nós mesmos, da condição humana, da nossa sociedade. Ela nos permite compreender melhor o mundo. Quando lemos um livro, está lá o que é mais importante”. 

Ler...

Ler é diferente de contar.

Não é mais, nem menos. É diferente. Na escola, a criança – aprendiz da espécie humana que através da fala e pela escrita aprende a organizar o pensamento – acessa, com a audição de histórias lidas, contatos e aprimoramentos das relações com a cultura escrita, uma de nossas maiores conquistas antropológicas. Ler para os pequenos desde tenra infância, então, é inseri-los no que de melhor produzimos como “sapiens”: a escrita autoral ou, um modo particular de ver/sentir/narrar o mundo e, um bom mediador, dá nome a quem de direito: ao autor, a autoria; ao mediador, os sentimentos todos que encontrou ali e quer perpetuar, divulgar, evidenciar.

 No texto Experiência e Pobreza, o filósofo Walter Benjamin (1933), disserta sobre a perda da capacidade de contar histórias – e de, com elas, dar ensinamentos morais através do intercâmbio de experiências –, ocasionada pela dissolução dos vínculos familiares e pelo empobrecimento de experiências comunicáveis da população.

Para concluir...

Gustavo Bernardo elaborou o seu “conceito de literatura” e o publicou, com outros pesquisadores, na obra Introdução aos termos literários, organizada por José Luis JOBIM e publicada pela Editora 34 em 2002. Leia:

 

"A ficção, a literatura, fazem mais do que ampliar as nossas perspectivas, ao mapearem a realidade, anunciando territórios inexplorados e desconhecidos; a ficção e a literatura nos permitem viver o que de outro modo talvez não fosse possível, ou seja, nos permitem ser outros (os personagens) e adquirir, ainda que momentaneamente, a perspectiva destes outros – para, adiante, termos uma chance de cumprir o primado categórico de todas as éticas, de tão difícil realização: ser o que se é".

 

Nota: A entrevista de Todorov pode ser encontrada em: http://www.academia.edu/8584274/Entrevista_com_Tzvetan_Todorov