Sala de Leitura Érico Veríssimo e suas Micropolíticas de formação do Leitor Literário.
Sala de Leitura Érico
Veríssimo
e suas Micropolíticas de formação do Leitor Literário.
Cinara Tonello Postringer
Drª. Cristina Maria Rosa
Ieda Maria Kurtz de Azevedo
Resumo: No trabalho
apresentamos, após anos de trabalho, a conquista da Sala de Leitura Érico
Veríssimo. Nomeada em homenagem a nosso maior escritor, localizada
geograficamente no andar principal do Museu do Doce no centro Histórico da
cidade de Pelotas. É uma estrutura acadêmica que integra ensino, pesquisa e
extensão e tem como centralidade a proposição de micropolíticas de formação do
leitor literário, bem como a qualificação, no âmbito da Leitura Literária, dos
estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia. O objetivo do trabalho é
apresentar as micropolíticas desenvolvidas no espaço e eventos desencadeados a
partir da necessidade e importância de construir uma prática capaz de
questionar o mundo propondo outras direções de vida e de convivência cultural. Assim,
elencamos os eventos que tem como norte a formação do leitor literário e as
práticas de mediação literária. Como referencial teórico nos cercamos de textos
ofertados por Graça Paulino (2014), Yolanda Reyes (2014) e Cristina Maria Rosa
(2015) unânimes em considerar que a leitura literária é porta de entrada para a
formação do leitor desde a tenra idade.
Palavras-chave: Leitura Literária;
Mediação Literária; Sala de Leitura.
Introdução
No trabalho apresentamos as práticas de
Leitura Literária desenvolvidas na sala de Leitura Érico Veríssimo, uma
estrutura acadêmica vinculada ao GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária
da Faculdade de Educação da UFPel – apoiada pelo PET Educação e coordenada pela
Drª. Cristina Maria Rosa e o impacto das micropolíticas de leitura literária
desencadeadas. Criada para ofertar uma formação diferenciada aos alunos da
licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Pelotas (FaE/UFPel), a sala também é frequentada por estudantes vinculados a
diferentes graduações da UFPel.
Integrada ao
Casarão 8, Museu do Doce, no centro histórico de Pelotas, acomodada em um
espaço de aproximadamente 30m², a sala é ambientada com decorações e adereços
que remetem os frequentadores ao mundo da imaginação. Nela são desenvolvidas
práticas de apresentação da Leitura Literária a crianças, preferencialmente de
escolas públicas. Dentre o público que frequenta a sala também
estão pais com seus filhos, idosos e turistas, sendo
aberta a toda a sociedade. O foco da Sala de
leitura Érico Veríssimo é promover o encontro da Literatura com todos os
públicos tornando-se,
dessa forma, mediadora entre os livros e a literatura.
A formação do mediador literário é estruturador e
primordial no exercício cotidiano da docência nos anos iniciais da
escolaridade. A argumentação parte do princípio de que crianças que chegam à
escola pública precisam ser apresentadas à linguagem literária, alfabetizadas
literariamente (ROSA, 2015). É
necessário alfabetizar, propiciar acesso aos livros e dialogar com os leitores
em formação sobre suas leituras e sentidos atribuídos a elas. A leitura para
fruição, compreendida como aquela voltada para o prazer, no sentido atribuído
ao referir-se à formação do leitor, Zilberman (2003, p. 30) diz que a
legitimidade do uso da literatura na sala de aula vem tanto “da relação que estabelece com seu leitor,
convertendo-o num ser crítico perante a sua circunstância” quanto “do papel transformador que pode exercer
dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do estudante”. Outra das
ideias compartilhadas é que a oportunidade de entrar em contato com impressos
que a escola e a sociedade valorizam deve acontecer através do professor.
Assim, a alfabetização literária requer a atitude de um mediador – uma pessoa
que "estende pontes entre os livros
e os leitores" (REYES, 2014).
Para Paulino (2014, p.
177) há, quando da leitura, um “pacto
entre leitor e texto” que “inclui,
necessariamente, a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco
de atenção, pois através dela se inventam outros mundos, em que nascem seres
diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”. Para ela a leitura literária é “uma prática cultural de natureza artística” em que o gosto e o
prazer acompanham seu desenvolvimento e são “vivenciados
como mais importantes”, embora outros objetivos possam existir. A
pesquisadora argumenta que a leitura literária constitui “uma prática capaz de questionar o mundo já organizado, propondo outras
direções de vida e de convivência cultural”. Ao selecionar “livros que fascinam”, os mediadores
transformam pessoas em leitores. Leitores de imagens, leitores de textos, leitores
de sentidos, leitores de vidas.
Para ofertar a leitura a
sujeitos que ainda não detém a interação com os livros e a literatura, é
preciso preparar-se anteriormente: utilizar critérios de escolha, conhecer as
obras adequadas ao público ouvinte, selecionar um grupo de textos que capturem
a atenção e oportunizem o prazer e o gostar de ouvir. Para Rosa (2017, s/nº): “Uma obra literária não tem a
tarefa de informar, embora possa fazer isso; não tem como compromisso educar,
apesar de poder. A pesquisadora afirma ainda que, a obra literária tem
compromisso com a imaginação, a emoção, a estética”. (ROSA, 2017).
No Manifesto
por um Brasil Literário, elaborado em 2009, para lançamento do Movimento
por um Brasil Literário, Bartolomeu Campos
de Queirós afirma que “a leitura
literária é um direito de todos”, considerando que a maioria das famílias
pertencentes às camadas populares não dispõe de acesso à leitura e literatura
ou outros impressos gráficos em seu cotidiano, cabe à escola, principalmente ao
professor, o papel de promover esse acesso. Para QUEIRÓS (2009), na literatura “o sujeito viaja por outro mundo possível”,
cria, inventa, imagina, “rompe com o
limite do provável” estabelecendo um diálogo “entre o real e o idealizado”.
Letramento literário é um conjunto de
práticas que envolvem o escritor e leitor na construção de conhecimento,
aprendizagens e novas interpretações e construção de novos caminhos. Para
Cosson (2009), o processo de letramento literário deve envolver aspectos que
conciliem os diversos textos literários circundantes nas esferas sociais, e
ainda que:
[...] devemos compreender que o letramento literário é uma
prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser
enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos
alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem
descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega
do que confirma seu poder de humanização. (COSSON, 2009, p. 23). https://sites.google.com/site/estudosdeletramento/letramento-literario
Ele
é diferente de outros tipos de letramento, a literatura ocupa um lugar único em
relação à linguagem. É capaz de tornar o mundo compreensível e
transformador em sua materialidade nas palavras de cores, odores, sabores
e formas intensamente humanas. Essa concepção
está de acordo com a noção de letramento literário de Magda Soares (apud
GONÇALVES, Sarah, 2017). Quando ela
explica sobre os caminhos do processo de alfabetização e práticas sociais de
leitura e ainda, sobre as facetas da aprendizagem, destacando: a faceta da
leitura fluente: Soares salienta, ainda, que a literatura direciona
às práticas de leitura que ocorrem no contexto social, às atitudes e aos
valores que correspondem ao tipo de leitor que está em formação.
Segundo Sylvia Pellegrinno “a literatura é muito
importante para o ser humano se conhecer melhor, é uma forma através da linguagem em adquirir experiências
de vida, é muito importante
também para enriquecer a nossa cultura”, segue a autora expondo a importância de “conhecer
novos pontos de vista, épocas distintas, das nossas, e até
figuras diferentes e pouco
conhecidas”.
Para Sylvia a leitura nos ajuda a conhecer o mundo e suas diversas impressões “nos possibilitando a um novo conhecimento
sobre nós mesmos”.
A
literatura possibilita ao leitor, em um dado momento, se identificar com o
personagem, com suas emoções e angústias. Permite, em muitos casos, se
descobrir como escritor, não importando o gênero, a literatura contribui para o
enriquecimento do vocabulário e do
senso crítico do leitor, possibilita expansão de horizontes, num mundo de
ideias e ideais.
A proposição da Sala de Leitura Érico Veríssimo surgiu, de
acordo com a Coordenadora, com o intuito de abrigar e disponibilizar acervos
aos estudantes da Licenciatura de Pedagogia. Adquiridos com recursos públicos e
doações, a sala abriga atualmente, seis acervos: obras literárias
infanto-juvenis, obras literárias universais, livros sobre literatura e seu
ensino, obras literárias para crianças, uma Gibiteca e uma coleção de 30
banners com a história do GELL, da Sala de Leitura e suas políticas.
Desde sua inauguração,
em outubro de 2017, houve a oferta de diferentes micropolíticas, dentre elas
estão: Inauguração da Sala no Museu do Doce e Abertura da sala aos usuários;
Aprovação da Sala de Leitura pelo COCEPE/ UFPEL. Publicação da Agenda do
“Outubro Literário”no Museu do Doce; Três apresentações do Espetáculo “No Manantial” e “Melancia Coco
Verde”, de João Simões Lopes Neto (JSLN); “ Novembro Literário no Museu do
Doce”. Publicação da Agenda do “Novembro
Literário; Leitura teatralizada “Como as histórias se espalham pelo mundo. Lançamento
do livro digital “Contos de Infância; “ Novembro na Feira do livro.” GELL e a
Educação no Campo.” Contos Infantis de João Simões Lopes Neto”. Conferência
“Maus tratos emocionais.” Ensaio para o Espetáculo de Natal na Reitoria;
Abertura da disciplina “Contos e Poemas” para adultos da Universidade Aberta à Terceira
Idade
- UNATI; Publicação da agenda
de eventos para 18 de Abril; Publicação da Agenda do “Abril Literário”;
Lançamento do Curso de Aperfeiçoamento “Somos Loucos por livros”; Homenagem ao
“Dia internacional do Livro”; Em 02/06/2018, lançamento de pesquisa “Meu livro
na adolescência”; Em 12/06/2018, lançamento da Pesquisa “Amor aos quatro
ventos”; Publicação da agenda de Junho da Sala “Inverno em boa companhia”;
Visita à Biblioteca Pública Pelotense; Publicação do resultado de pesquisa
“Livro da adolescência”; Publicação dos resultados da pesquisa “Amor aos quatro
ventos”; Ensaio público de Pandolfo Bereba para o XII
Congresso Nacional de Educação em Valores Humanos; Leitura para crianças no Casarão 8;
Ensaio do GEEL
para Leituras na Fenadoce; Realização de Leituras Literárias para escolas;
Realização do Sarau de Contos e Poemas da Universidade Aberta
à Terceira Idade; Ensaio e Leitura dos Contos Morais de JSLN a convite da SMC para
o dia do Patrimônio da Cidade; Leitura Contos Morais de JSLN para estudantes da
Escola Estadual de Ensino Médio Oziel Alves Pereira, de Canguçu; Abertura do
programa “Literatura: Contos e Poemas em Língua Portuguesa II”, para a
UNATI/UFPel, em 14/09/2018.
Entre os resultados, observamos que a sala foi noticiada
na página da UFPel e, posteriormente, replicada em blogs e páginas online, o
que conferiu visibilidade e credibilidade à proposição.
Para descrever com mais acuidade uma das proposições,
escolhemos como foco o Novembro
Literário, com participação do grupo GELL, Sala de Leitura, com apoio do Pet
Educação prepararam uma agenda repleta de leituras e interações com crianças,
escolas, autores e públicos. A feira do livro ocorre na Praça Coronel Pedro
Osório todos os anos, no mês de Novembro a programação foi pensada para inserir
a todos no mundo dos livros e seus ritos: ouvir, ler, sonhar, folhear,
dialogar, pensar, usufruir, ou seja, deleitar-se com tramas personagens,
desfechos, e incógnitas que só a boa literatura oferece.
Para aprimorar saberes,
além de ler parte das obras dos autores clássicos, estudamos critérios para a
escolha de obras a serem apresentadas aos pequenos na escola, o conceito de Letramento Literário e modos de realizar a Leitura
Literária. Mas mais do que isso, inventamos.
Através de produções escritas, criamos uma receita para um dos
personagens que admiramos. É disso que se constitui esse livreto. (ROSA, 2016).
Observando a quantidade, variedade e qualidade das
micropolíticas propostas pela sala de leitura a usuários percebemos que ela
realmente é uma estrutura acadêmica que integra ensino, pesquisa e extensão.
Diante da centralidade das proposições, concluímos que seu foco, conforme
anunciado em documentos, banners, na mídia e nas palavras da coordenadora, é a
formação do leitor literário, especialmente pelo público que agrega, acervos
que disponibiliza e práticas de leitura que promove.
Ao conhecer com mais expressividade uma das políticas
desenvolvidas e tendo como documento-prova o livro digital produzido pelos
participantes, pude concluir que a proposição de formar leitores literários foi
o maior objetivo alcançado. Quanto ao produto livro digital pude compreender que é um formato que agrega pessoas
em torno de uma ideia, produz um resultado imediato que pode ser partilhado,
uma vez que está disponível online, e registra um momento.
REFERÊNCIAS
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática.
São Paulo: Editora Contexto, 2009.
GONÇALVES, Sarah
Suzane Bertolli. Letramento Literário
e o Leitor em formação. Disponível em: <https://educacional.cpb.com.br/conteudos/universo-educacao/letramento-literario-e-o-
leitor-em-formacao/> Acesso em 26 de
abril de 2019.
PELLEGRINO, Sylvia. Porque a literatura é importante
para o ser humano. Disponível em: <https://sylviapellegrino.wordpress.com/artigos-2/por-que-a-literatura-e-importante-para-o-ser-humano/>. Acesso em 27 de Abril de 2019.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Manifesto por um
Brasil Literário. Página Oficial. Disponível em: http://www.brasilliterario.org.br/
REYES,
Yolanda. Mediadores de Leitura. In: Glossário CEALE: termos
de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014.
ROSA, Cristina. Alfabetização Literária.
Pelotas: Blog Alfabeto à Parte.
Pelotas, 2015. Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2015/06/alfabetizacao-literaria-o-que-e.html
ROSA, Cristina (org.). Receitas Inventadas: dos
clássicos ao mercado público. Blog
Alfabeto à Parte. Pelotas, 2016. Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2016/03/receitas-inventadas-dos-classicos-ao.html
ROSA,
Cristina. Alfabetização Literária. Pelotas: Blog Alfabeto à Parte.
Pelotas, 2015. Disponível em: <http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2015/06/alfabetizacao-literaria-o-que-e.html>. Acessado em 28 de Abril de
2019.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003. http://revistaemilia.com.br/leitura-direito-da-cidadania-para-todos/
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