terça-feira, 25 de junho de 2019

17ª semana Nacional de Museus: Sala de Leitura presente!

Sala de Leitura Érico Veríssimo e suas Micropolíticas de formação do Leitor Literário.

        A sala de 
Leitura Érico Veríssimo apresentou-se em evento ocorrido no museu do Doce em 2019. Foi a 17ª semana Nacional de Museus, organizada pela PREC UFPel, Rede de Museus da UFPel e o IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus.   Orientado pela docente da Fae/UFPel, Drª. CRISTINA MARIA ROSA, o trabalho, intitulado Sala de Leitura Erico Verissimo e suas Micropolíticas de formação do Leitor Literário foi escrito por IEDA MARIA KURTZ DE AZEVEDO e CINARA TONELLO POSTRINGER. 
Leia o trabalho na íntegra:


Sala de Leitura Érico Veríssimo
e suas Micropolíticas de formação do Leitor Literário.

Cinara Tonello Postringer
Drª. Cristina Maria Rosa
Ieda Maria Kurtz de Azevedo

Resumo: No trabalho apresentamos, após anos de trabalho, a conquista da Sala de Leitura Érico Veríssimo. Nomeada em homenagem a nosso maior escritor, localizada geograficamente no andar principal do Museu do Doce no centro Histórico da cidade de Pelotas. É uma estrutura acadêmica que integra ensino, pesquisa e extensão e tem como centralidade a proposição de micropolíticas de formação do leitor literário, bem como a qualificação, no âmbito da Leitura Literária, dos estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia. O objetivo do trabalho é apresentar as micropolíticas desenvolvidas no espaço e eventos desencadeados a partir da necessidade e importância de construir uma prática capaz de questionar o mundo propondo outras direções de vida e de convivência cultural. Assim, elencamos os eventos que tem como norte a formação do leitor literário e as práticas de mediação literária. Como referencial teórico nos cercamos de textos ofertados por Graça Paulino (2014), Yolanda Reyes (2014) e Cristina Maria Rosa (2015) unânimes em considerar que a leitura literária é porta de entrada para a formação do leitor desde a tenra idade. 
Palavras-chave: Leitura Literária; Mediação Literária; Sala de Leitura.

Introdução
No trabalho apresentamos as práticas de Leitura Literária desenvolvidas na sala de Leitura Érico Veríssimo, uma estrutura acadêmica vinculada ao GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária da Faculdade de Educação da UFPel – apoiada pelo PET Educação e coordenada pela Drª. Cristina Maria Rosa e o impacto das micropolíticas de leitura literária desencadeadas. Criada para ofertar uma formação diferenciada aos alunos da licenciatura em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas (FaE/UFPel), a sala também é frequentada por estudantes vinculados a diferentes graduações da UFPel.
Integrada ao Casarão 8, Museu do Doce, no centro histórico de Pelotas, acomodada em um espaço de aproximadamente   30m²,  a sala é ambientada com decorações e adereços que remetem os frequentadores ao mundo da imaginação. Nela são desenvolvidas práticas de apresentação da Leitura Literária a crianças, preferencialmente de escolas públicas.  Dentre o público que frequenta a sala também estão pais com seus filhos, idosos e turistas, sendo aberta a toda a sociedade. O foco da Sala de leitura Érico Veríssimo é promover o encontro da Literatura com todos os públicos tornando-se, dessa forma, mediadora entre os livros e a literatura.
A formação do mediador literário é estruturador e primordial no exercício cotidiano da docência nos anos iniciais da escolaridade. A argumentação parte do princípio de que crianças que chegam à escola pública precisam ser apresentadas à linguagem literária, alfabetizadas literariamente (ROSA, 2015). É necessário alfabetizar, propiciar acesso aos livros e dialogar com os leitores em formação sobre suas leituras e sentidos atribuídos a elas. A leitura para fruição, compreendida como aquela voltada para o prazer, no sentido atribuído ao referir-se à formação do leitor, Zilberman (2003, p. 30) diz que a legitimidade do uso da literatura na sala de aula vem tanto “da relação que estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante a sua circunstância” quanto “do papel transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do estudante”. Outra das ideias compartilhadas é que a oportunidade de entrar em contato com impressos que a escola e a sociedade valorizam deve acontecer através do professor. Assim, a alfabetização literária requer a atitude de um mediador – uma pessoa que "estende pontes entre os livros e os leitores" (REYES, 2014).
Para Paulino (2014, p. 177) há, quando da leitura, um “pacto entre leitor e texto” que “inclui, necessariamente, a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção, pois através dela se inventam outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”. Para ela a leitura literária é “uma prática cultural de natureza artística” em que o gosto e o prazer acompanham seu desenvolvimento e são “vivenciados como mais importantes”, embora outros objetivos possam existir. A pesquisadora argumenta que a leitura literária constitui “uma prática capaz de questionar o mundo já organizado, propondo outras direções de vida e de convivência cultural”. Ao selecionar “livros que fascinam”, os mediadores transformam pessoas em leitores. Leitores de imagens, leitores de textos, leitores de sentidos, leitores de vidas.
Para ofertar a leitura a sujeitos que ainda não detém a interação com os livros e a literatura, é preciso preparar-se anteriormente: utilizar critérios de escolha, conhecer as obras adequadas ao público ouvinte, selecionar um grupo de textos que capturem a atenção e oportunizem o prazer e o gostar de ouvir. Para Rosa (2017, s/nº): “Uma obra literária não tem a tarefa de informar, embora possa fazer isso; não tem como compromisso educar, apesar de poder. A pesquisadora afirma ainda que, a obra literária tem compromisso com a imaginação, a emoção, a estética”. (ROSA, 2017).
No Manifesto por um Brasil Literário, elaborado em 2009, para lançamento do Movimento por um Brasil Literário, Bartolomeu Campos de Queirós afirma que “a leitura literária é um direito de todos”, considerando que a maioria das famílias pertencentes às camadas populares não dispõe de acesso à leitura e literatura ou outros impressos gráficos em seu cotidiano, cabe à escola, principalmente ao professor, o papel de promover esse acesso. Para QUEIRÓS (2009), na literatura “o sujeito viaja por outro mundo possível”, cria, inventa, imagina, “rompe com o limite do provável” estabelecendo um diálogo “entre o real e o idealizado”.
Letramento literário é um conjunto de práticas que envolvem o escritor e leitor na construção de conhecimento, aprendizagens e novas interpretações e construção de novos caminhos. Para Cosson (2009), o processo de letramento literário deve envolver aspectos que conciliem os diversos textos literários circundantes nas esferas sociais, e ainda que:
[...] devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização. (COSSON, 2009, p. 23). https://sites.google.com/site/estudosdeletramento/letramento-literario
Ele é diferente de outros tipos de letramento, a literatura ocupa um lugar único em relação à linguagem. É capaz de tornar o mundo compreensível e  transformador em sua materialidade nas palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas. Essa concepção está de acordo com a noção de letramento literário de Magda Soares (apud GONÇALVES, Sarah, 2017). Quando ela explica sobre os caminhos do processo de alfabetização e práticas sociais de leitura e ainda, sobre as facetas da aprendizagem, destacando: a faceta da leitura fluente: Soares salienta, ainda, que a  literatura direciona às práticas de leitura que ocorrem no contexto social, às atitudes e aos valores que correspondem ao tipo de leitor que está em formação.
Segundo Sylvia Pellegrinno “a literatura é muito importante para o ser humano se conhecer melhor, é uma forma através da linguagem em adquirir experiências de vida, é muito importante também para enriquecer a nossa cultura”, segue a autora  expondo a importância de conhecer novos pontos de vista, épocas distintas, das nossas, e até figuras diferentes e pouco conhecidas”. Para Sylvia a leitura nos ajuda a conhecer o mundo e suas diversas impressões “nos possibilitando a um novo conhecimento sobre nós mesmos”.
A literatura possibilita ao leitor, em um dado momento, se identificar com o personagem, com suas emoções e angústias. Permite, em muitos casos, se descobrir como escritor, não importando o gênero, a literatura contribui para o enriquecimento do   vocabulário e do senso crítico do leitor, possibilita expansão de horizontes, num mundo de ideias e ideais.
A proposição da Sala de Leitura Érico Veríssimo surgiu, de acordo com a Coordenadora, com o intuito de abrigar e disponibilizar acervos aos estudantes da Licenciatura de Pedagogia. Adquiridos com recursos públicos e doações, a sala abriga atualmente, seis acervos: obras literárias infanto-juvenis, obras literárias universais, livros sobre literatura e seu ensino, obras literárias para crianças, uma Gibiteca e uma coleção de 30 banners com a história do GELL, da Sala de Leitura e suas políticas.
Desde sua inauguração, em outubro de 2017, houve a oferta de diferentes micropolíticas, dentre elas estão: Inauguração da Sala no Museu do Doce e Abertura da sala aos usuários; Aprovação da Sala de Leitura pelo COCEPE/ UFPEL. Publicação da Agenda do “Outubro Literário”no Museu do Doce; Três apresentações do Espetáculo “No Manantial” e “Melancia Coco Verde”, de João Simões Lopes Neto (JSLN); “ Novembro Literário no Museu do Doce”.  Publicação da Agenda do “Novembro Literário; Leitura teatralizada “Como as histórias se espalham pelo mundo. Lançamento do livro digital “Contos de Infância; “ Novembro na Feira do livro.” GELL e a Educação no Campo.” Contos Infantis de João Simões Lopes Neto”. Conferência “Maus tratos emocionais.” Ensaio para o Espetáculo de Natal na Reitoria; Abertura da disciplina “Contos e Poemas” para adultos da Universidade Aberta à Terceira Idade - UNATI; Publicação da agenda de eventos para 18 de Abril; Publicação da Agenda do “Abril Literário”; Lançamento do Curso de Aperfeiçoamento “Somos Loucos por livros”; Homenagem ao “Dia internacional do Livro”; Em 02/06/2018, lançamento de pesquisa “Meu livro na adolescência”; Em 12/06/2018, lançamento da Pesquisa “Amor aos quatro ventos”; Publicação da agenda de Junho da Sala “Inverno em boa companhia”; Visita à Biblioteca Pública Pelotense; Publicação do resultado de pesquisa “Livro da adolescência”; Publicação dos resultados da pesquisa “Amor aos quatro ventos”; Ensaio público de Pandolfo Bereba para o XII Congresso Nacional de Educação em Valores Humanos; Leitura para crianças no Casarão 8; Ensaio do GEEL para Leituras na Fenadoce; Realização de Leituras Literárias para escolas; Realização do Sarau de Contos e Poemas da Universidade Aberta à Terceira  Idade; Ensaio e Leitura dos Contos Morais de JSLN a convite da SMC para o dia do Patrimônio da Cidade; Leitura Contos Morais de JSLN para estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Oziel Alves Pereira, de Canguçu; Abertura do programa “Literatura: Contos e Poemas em Língua Portuguesa II”, para a UNATI/UFPel, em 14/09/2018.
Entre os resultados, observamos que a sala foi noticiada na página da UFPel e, posteriormente, replicada em blogs e páginas online, o que conferiu visibilidade e credibilidade à proposição.
Para descrever com mais acuidade uma das proposições, escolhemos como foco o Novembro Literário, com participação do grupo GELL, Sala de Leitura, com apoio do Pet Educação prepararam uma agenda repleta de leituras e interações com crianças, escolas, autores e públicos. A feira do livro ocorre na Praça Coronel Pedro Osório todos os anos, no mês de Novembro a programação foi pensada para inserir a todos no mundo dos livros e seus ritos: ouvir, ler, sonhar, folhear, dialogar, pensar, usufruir, ou seja, deleitar-se com tramas personagens, desfechos, e incógnitas que só a boa literatura oferece.
Para aprimorar saberes, além de ler parte das obras dos autores clássicos, estudamos critérios para a escolha de obras a serem apresentadas aos pequenos na escola, o conceito de Letramento Literário e modos de realizar a Leitura Literária. Mas mais do que isso, inventamos.  Através de produções escritas, criamos uma receita para um dos personagens que admiramos. É disso que se constitui esse livreto. (ROSA, 2016).
Observando a quantidade, variedade e qualidade das micropolíticas propostas pela sala de leitura a usuários percebemos que ela realmente é uma estrutura acadêmica que integra ensino, pesquisa e extensão. Diante da centralidade das proposições, concluímos que seu foco, conforme anunciado em documentos, banners, na mídia e nas palavras da coordenadora, é a formação do leitor literário, especialmente pelo público que agrega, acervos que disponibiliza e práticas de leitura que promove.
Ao conhecer com mais expressividade uma das políticas desenvolvidas e tendo como documento-prova o livro digital produzido pelos participantes, pude concluir que a proposição de formar leitores literários foi o maior objetivo alcançado. Quanto ao produto livro digital pude compreender que é um formato que agrega pessoas em torno de uma ideia, produz um resultado imediato que pode ser partilhado, uma vez que está disponível online, e registra um momento. 


REFERÊNCIAS

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

GONÇALVES, Sarah Suzane Bertolli. Letramento Literário e o Leitor em formação. Disponível em: <https://educacional.cpb.com.br/conteudos/universo-educacao/letramento-literario-e-o- leitor-em-formacao/> Acesso em 26 de abril de 2019.

PELLEGRINO, Sylvia. Porque a literatura é importante para o ser humano. Disponível em: <https://sylviapellegrino.wordpress.com/artigos-2/por-que-a-literatura-e-importante-para-o-ser-humano/>. Acesso em 27 de Abril de 2019.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Manifesto por um Brasil Literário. Página Oficial. Disponível em: http://www.brasilliterario.org.br/

PAULINO, Graça. Leitura Literária. In: Glossário CEALE: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte: UFMG/Faculdade de Educação, 2014.


ROSA, Cristina. Alfabetização Literária. Pelotas: Blog Alfabeto à Parte. Pelotas, 2015. Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2015/06/alfabetizacao-literaria-o-que-e.html

ROSA, Cristina (org.). Receitas Inventadas: dos clássicos ao mercado público. Blog Alfabeto à Parte. Pelotas, 2016. Disponível em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com.br/2016/03/receitas-inventadas-dos-classicos-ao.html

ROSA, Cristina. Alfabetização Literária. Pelotas: Blog Alfabeto à Parte. Pelotas, 2015. Disponível em: <http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2015/06/alfabetizacao-literaria-o-que-e.html>. Acessado em 28 de Abril de 2019.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003. http://revistaemilia.com.br/leitura-direito-da-cidadania-para-todos/

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