Passos
Alessandra Steilman
Primeiro eu esperei no mesmo lugar,
onde você sempre soube que me encontraria, depois dei passos para trás, foi
necessário me afastar. Mas não porque perdi o interesse, o sentimento, ou por
não sentir falta, mas sim porque era doloroso demais ver você de longe não se
interessando, não se esforçando e o pior, provavelmente não sentindo. Não era
pra ser. Dizem. Mas o problema é que eu me doei, senti e me empenhei para que
fosse. Eu tive fé que seria, e não será mais. Nunca mais. E dói.
Inclusive, o sentimento ainda existe
e não importa o quanto eu possa ter sofrido em vão ou me magoado porque quando
você ama e é leal à alguém você o ama com todas as feridas, incêndios, traumas
e defeitos. Sempre se vê além. Em um amor real você assume o risco, e continua
até onde for possível aguentar. O amor é real, mas exige empatia e coragem.
Eu queria que não fosse assim para
seguir, queria que existisse um botão de liga e desliga, facilitaria a minha
cura e amenizaria a saudade que salta do nada no meio do meu dia. Malditos
gostos parecidos, malditas manias que peguei de ti e maldita vontade de te ter
por perto.
Há dias em que acho que a superação
está há poucos passos do fim, em outros dou três passos pra trás e eu não sei
até quando isso vai, eu não sei quanto vai durar.
Estou tentando fazer o que acredito
ser o certo, mas meu coração nem sempre concorda e eu vivo em constante
conflito comigo mesma, pois apesar das minhas dores quero que saiba que eu não
tenho remorso, que eu não quero que você sofra, que eu continuo aqui para
quando estiver difícil suportar o peso do mundo ou quando sua mente estiver te
fazendo acreditar que você é um vilão de novela mexicana (você não é) e eu não
quero mesmo que se esqueça do tempo em que fomos nós. Quero que lembre com
carinho, assim como eu. Essa é a direção dos meus passos, e eu espero (quase
sonhando) que dos teus também.
VOA
Eu olho para a tela do celular
esperando que chegue uma mensagem de um número estranho. Apaguei teu contato,
então na verdade espero uma mensagem sua. Mas não qualquer mensagem... uma
daquelas dizendo que ainda tem na memória as coisas que você costumava elogiar
em mim, que lembra das nossas conversas profundas, que sente falta das minhas
palavras, mas mais ainda da minha presença ao teu lado. As mensagens não vão
chegar, estou certa que essa não é uma daquelas histórias que terminam com um
"felizes para sempre". Não há como negar que tivemos tempo para
tentar. Não existe dúvida, era o limite, o fim. Eu não sei mais se isso é bom
ou ruim, ter insistido tanto só fez aumentar a saudade e as frustrações. Tanto
esforço para quê? Para se sentir um trapo que precisa deixar ir todas as
expectativas que você alimentou em mim? Como eu faço isso? Eu tento me
distrair, mas além das lembranças, você também deixou o medo de me envolver de
novo. Porque contigo foi assim sem querer, em um piscar de olhos o sentimento
já tinha tomado conta. Me sinto perdida. Marco compromissos que tenho medo de
ir. Eu sempre fui coragem. Algo aqui dentro está fora do lugar. Não me
reconheço. Preciso entender o que está acontecendo. Preciso me curar, mas nem
sei bem o que quebrou. Só sei que estou em cacos. A minha última esperança é
conseguir fazer um mosaico bonito e colorido, que me faça acreditar novamente,
me lembre quem eu sou. E que fique lindo quando eu recuperar a luz que foi se
apagando com a tua indiferença.
A
COR DA DOR E O MAR (OU CONTINUA)
Vestiu-se
da cor
De
sua dor
E a
noite bonita
Pedia
passos na areia
Queria
que a dor
Não
fizesse lembrar
Queria
que a dor
Não
tivesse cor
Vestiu-se
também
Do
tempo que a dor existe
Em
seu vestido longo e preto
Quis
sentir o mar
A
noite, por coincidência
Pintou
o mar da mesma cor
Que
a cor da dor que sentia
A
areia molhada, a onda sussurra
Mais
perto, mais perto
A
onda vem fria nas pernas
Mas
não é incomodo
É o
consolo da praia
Aos
poucos a dor se funde
Com
a cor escura do mar
E
não é mais apenas a cor
Que
une o mar e a mulher
São
os mistérios que escondem
Os
monstros que abrigam
E a
imensidão de ser
Que
os faz ter tanta vida
A
onda vem fria nas pernas
Mas
volta levando areia e a dor
Uma,
duas, três vezes... Tudo se foi
Consolada,
se despede da praia
Ela
se esforça buscando palavras
O
verso de seu poema preferido
Emerge
em sua mente:
"Mas
o coração continua"
A
cor não carrega mais dor.
E a
mulher, mais uma entre tantas vezes
Continua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário