Literatura na Escola: a
escolha do que ler
Cristina Maria Rosa
Deleite é contato
prazeroso com o artefato cultural mais importante de nossa cultura escrita: o
livro. Deleitar-se é encantar-se, envolver-se abraçar-se com uma obra, advindo
dela infindáveis relações de pertença: prazer, mágoa, dor, angustia, solidão,
saudade, tristeza, alegria. Deleitar-se não é apenas sentir prazer, alegria. Como
salienta Maria Silvia Pires Oberg (2007, p. 23), "a fruição é um ato
abrangente, que articula várias dimensões do sujeito: sensorial, afetiva,
intuitiva, lógica, imaginativa, cultural, intelectual, entre outras".
Sobre a qualidade dos
textos literários para a pequena infância, autores como Mariana Pereira dos
Reis, Eneida Pena Pereira Torres e Beethoven Hortencio Rodrigues da Costa (2016)
têm defendido que a qualidade consiste na possibilidade da história produzir um
efeito humanizador no pequeno leitor, ― sem que haja a necessidade de uma
mensagem moralizante ou pedagógica explícita e nem o apoio de imagens, sem o qual
o texto não se sustentaria".
Para a escolha de obras
infantis, Cristina Rosa (2015) indica critérios literários, entre eles,
longevidade, expressão inusitada e/ou linguagem metafórica, inesgotabilidade,
valor histórico e documental; magia, vínculo com a ancestralidade e fazer
pensar. A pesquisadora preconiza que a humanidade – suas emoções fundantes como
o medo do abandono e da morte, por exemplo – é matéria primordial da literatura
e a obra literária é o melhor caminho para ensinar a gostar de ler, uma vez que
esse atributo não é genético, precisa ser ensinado, antropologicamente, a cada
novo humano em sociedade.
Possivelmente muitos
adultos – pais e professores, preponderantemente – não consigam articular estes
saberes quando da escolha de livros a serem apresentados aos seus. E, na
maioria das vezes, indicam ser difícil ou impossível dialogar com as meninas e
os meninos, na escola e fora dela, acerva de temas como diversidade, morte e
respeito às diferenças, por exemplo.
Ricardo José Duff Azevedo
(1997, p. 202) afirma que os livros paradidáticos utilizam-se, em geral, dos
textos verbais e visuais e também pretendem trazer e transmitir informações e
conceitos concretos e objetivos sobre determinado assunto. Necessariamente, têm
motivação pedagógica ou ideológica e pretendem, em última análise, educar,
informar e ensinar. Ao contrário dos livros didáticos, podem ou não estar
diretamente comprometidos com os programas de ensino oficiais. Em lugar do
discurso didático, denotativo, unívoco e, na medida do possível, impessoal,
podem utilizar-se, em grau maior ou menor, do recurso da ficcionalidade, do
discurso poético e aparentemente subjetivo, como suporte para transmitir
conceitos. Os livros paradidáticos pretendem distrair ensinando. Através de uma
determinada narrativa de ficção, são transmitidas informações sobre, por
exemplo, a natureza, o desequilíbrio ecológico e temas como a defesa e a
aceitação das minorias; a luta pela abolição das desigualdades sociais; a
emancipação da mulher; o exercício da cidadania, entre outros.
Acerca dos livros voltados
ao público infantil que abordam a sexualidade, por exemplo, Jane Felipe (2018,
p. 341) destaca que nem sempre conseguem o fazer de forma objetiva e
transparente, pois “muitos deles reiteram um modelo heteronormativo, ignorando
assim outras manifestações identitárias e outras possibilidades de
configurações familiares”. E sugere que tenhamos um olhar sensível sobre tal
realidade, procurando avaliar muito bem a qualidade dos livros: didáticos, paradidáticos
e mesmo os de literatura infantil.
A literatura na Escola
Foi esse o tema da
conversa com professores ocorrida na manhã de sábado, dia 16 de março, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Luiz Augusto de
Assumpção, que se localiza na Praça
Aratiba, nº 281, Balneário dos Prazeres, uma das margens da Lagoa dos Patos, em
Pelotas, RS.
Reunidos para estudar,
professores de diversas áreas – Pedagogos, Licenciados em Português,
Matemática, História, Geografia, Ciências, Arte, Espanhol, Ensino Religioso e
Educação Física – recepcionaram o PET Educação para um diálogo sobre leitura e
literatura na escola.
Após, em avaliação realizada pela Diretora, professora
Daniele Dumith e pela Professora Fabiane Rodrigues Viana, alguns comentários dos
professores que participaram:
“Melhor reunião, em minha opinião. Ouvi, pude falar e aprendi. Se
estou na escola, preciso me sentir parte dela!”
"Perdoem-me se isso é ‘coisa de menina’, mas me valeu muito. Profissional
e particularmente. Só faltou o café com coisas boas...”.
“Que a próxima seja em breve!”
Referências
Em sua fala aos
professores, a professora Cristina Maria Rosa mencionou e leu trechos de
livros. Seus títulos e autores podem ser observados a seguir:
A História mais triste do mundo,
de Mário Corso;
Coisa de Menina, de Pri
Ferrari;
Coisa de Menino, de Pri
Ferrari;
O Espaço, de Blandina
Franco e José Carlos Lollo;
Uma rede de casas
encantadas, de Ana Maria Machado.
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