No
sábado, dia 11 de novembro, ais um espetáculo No Manantial foi apresentado ao
público no Museu do Doce (Centro Histórico de Pelotas). O grupo de leitura
literária da FaE/UFpel (GELL), responsável pela escolha do texto, ensaios e leitura
teatralizada esteve representado, na ocasião, pela Cíntia, Cinara, Ieda, Leonardo
e Malu, No apoio, Alessandra, Érica e Rose. A seguir, leia um trecho do conto:
No manantial
João Simões Lopes Neto
–
Está vendo aquele umbu, lá embaixo, à direita do coxilhão? Pois ali é a tapera
do Mariano. Nunca vi pêssegos mais bonitos que os que amadurecem naquele
abandono; ainda hoje os marmeleiros carregam, que é uma temeridade! Mais para
baixo, como umas três quadras, há uns olhos d’água, minando as pedras, e logo adiante
uns coqueiros; depois pega um cordão de araçazeiros.
Diziam
os antigos que ali encostado havia um lagoão mui fundo onde até jacaré se
criava.
Eu,
desde guri, conheci o lagoão já tapado pelos capins, mas o lugar sempre
respeitado como um tremedal perigoso: até contavam de um mascate que aí
atolou-se e sumiu-se com duas mulas cargueiras e canastras e tudo... Mais de
uma rês magra ajudei a tirar de lá; iam à grama verde e atolavam-se logo, até a
papada.
Só
cruzam ali por cima as perdizes e algum cusco leviano. Com certeza que as
raízes do pasto e dos aguapés foram trançando uma enrediça fechada, e o barro e
as folhas mortas foram-se amontoando e, pouco a pouco, capeando, fazendo a
tampa do sumidouro.
E
depois, nunca deram desgoto na ponta do lagoão, porque, se dessem, a água
corria e não se formaria o mundéu… Mas, onde quero chegar: vou mostrar-lhe, lá,
bem no meio do manantial, uma cousa que vancê nunca pensou ver; é uma roseira,
e sempre carregada de rosas... Gente vivente não apanha as flores porque quem plantou
a roseira foi um defunto... e era até agouro um cristão enfeitar-se com uma
rosa daquelas!... Mas, mesmo ninguém poderia lá chegar; o manantial defende a
roseira baguala: mal um firma o pé na beirada, tudo aquilo treme e bufa e
borbulha...
Uns
carreteiros que acamparam na tapera do Mariano contaram que pela volta da
meia-noite viram sobre o manantial duas almas, uma, vestida de branco, outra,
de mais escuro. E ouviram uma voz que chorava um choro mui suspirado e outra
que soltava barbaridades. Mas como era longe e eles estavam de cabelos em pé –
pois nem os cachorros acuavam, só uivavam, uivavam – não puderam dar uma
relação mais clara do caso.E
o lugar ficou mal-assombrado.
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