Pesquisa desenvolvida em 2019,
apresentamos um grupo de livros que sim, podem ser lidos, fruídos e
problematizados na escola e fora dela. São livros que abordam sutil
ou profundamente, os temas que importam a meninas, adolescente e mulheres no
século XXI.
Desenvolvida pelo grupo PET Educação
e em especial pela estudante JÉSSICA CORRÊA RIBEIRO, foi orientada pela Drª.
CRISTINA MARIA ROSA e premiada na SIIEPE UFPel. A seguir, o resumo:
INTRODUÇÃO: Com a investigação busco
delinear um acervo literário cujo foco é o feminismo e violência contra a
mulher. Objetivo conhecer se há e quais são os livros de literatura que podem
ser acionados em práticas de leitura com meninas na escola. Um de meus
objetivos é fornecer uma lista de títulos que auxiliem os professores e
estudantes de Pedagogia quando tratar do feminismo e da violência contra a
mulher. Segundo GARCIA (2009) “o feminismo se articula como filosofia política,
e ao mesmo tempo, como movimento social”. Desse modo, é importante observar que
o feminismo se encontra no cotidiano das relações humanas. No entanto, no
ambiente escolar ainda existe um receio quanto ao fato de se utilizar esta
temática, acredito que por construções históricas e sociais presentes na
história da formação e do exercício docente. De fato, ainda existe muito para
se conhecer e questionar sobre o feminismo, mas é imprescindível que se aborde
essa temática na escola, especialmente com as meninas, por serem elas as
primeiras vítimas da violência contra a mulher no Brasil. Segundo BEAUVOIR (1967,
p.30) “Tudo contribui para confirmar essa hierarquia aos olhos da menina. Sua
cultura histórica, literária, as canções, as lendas com que a embalam são uma
exaltação do homem”. Realizar leituras literárias que apresentem protagonistas
mulheres sugere, informa e confirma às meninas que existe um lugar para elas,
um lugar que não precisa mais ser idealizado. Fenômeno caracterizado “por um
constante e reiterado desrespeito ao outro”, a violência contra a mulher deve
ser pautada na escola, de acordo com ROSA (2017). A pesquisadora afirma que é
urgente e necessária a reflexão sobre esta temática e indica que a Literatura
pode ser um interessante instrumento para que discussões sobre esse tema, que é
de todos, sejam desencadeadas. Assim, elenca entre títulos interessantes a
serem lidos, alguns dos contos clássicos. Eles trazem informações, sutilezas,
insinuações e, ao serem fruídos, propõem pensar sobre a condição humana e a
condição da mulher independente de época e lugar. Um deles, o conto grafado por
Charles Perrault em 1697, Chapeuzinho Vermelho, é considerado um poderoso
alerta a meninas desde então (ROSA, 2017). Em uma obra interface entre a
Psicanálise e a Literatura intitulada Fadas no Divã, os autores Diana e Mário
Corso (2006) avaliaram os impactos dos contos de fadas na construção dos
sujeitos. Na mesma rota, QUEIRÓS (2009), defende que a Literatura “possibilita
ao leitor dobrar-se sobre si mesmo e estabelecer uma prosa entre o real e o
idealizado”. Ou seja, os alertas e denúncias que a literatura realiza, são
fundamentais para as compreensões de si e do outro. Para ROSA (2017) “ao
escolhermos uma obra a ser lida para nossas crianças em casa ou na escola, um
grupo importante de critérios precisam ser considerados, entre eles, autoria,
gênero, ilustrador, quantidade e qualidade do texto e até temas que podem
desencadear indagações e diálogos acalorados”. Os critérios são fundamentais
para a construção do diálogo, e facilitam no processo de procura de acervo.
Estrutura acadêmica vinculada ao GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária
da Faculdade de Educação da UFPel e apoiada pelo PET Educação –, a Sala de
Leitura Érico Veríssimo está localizada no CCSH. É um ambiente de aprendizagens
significativas e local pelo qual transitam professores e estudantes de vários
cursos, entre eles, a Licenciatura em Pedagogia. Assim, ao realizar a pesquisa
imagino facilitar a interação com o acervo que é amplo. Repletas de
questionamentos e receios, as temáticas da violência de gênero, feminismo e
empoderamento feminino demandam suporte teórico e mediação, o que pode ser
feito a partir de: a) sujeitos (estudantes, pesquisadores, professores,
familiares); b) obras adequadas, que apoiem o diálogo reflexivo e o tornem mais
atraente e eficaz.
2. METODOLOGIA A metodologia de pesquisa é descrita
por Minayo (1994, p. 16) como a confluência de “concepções teóricas de
abordagem”, “conjunto de técnicas” que possibilitam a observação e análise da
realidade e a influência do “potencial criativo do investigador”. Para a
autora, a pesquisa qualitativa “responde a questões muito particulares” e se
preocupa com “um nível de realidade que não pode ser quantificado” (MINAYO,
1994, p. 21). De acordo com essa abordagem, inicialmente empreendi uma pesquisa
bibliográfica sobre os conceitos da temática escolhida. Pretendia tornar mais
consistentes as concepções teóricas disponíveis sobre o feminismo e a violência
contra a mulher. Logo depois, integrando o conjunto de técnicas, optei por:
a) Selecionar na SLEV um grupo de aproximadamente
trinta títulos – corpus inicial – que mencionassem a temática do feminismo e/ou
a violência contra a mulher;
b) Apresentar os títulos ao grupo PET Educação que
integro como bolsista, a fim de que todos pudessem ler e escolher um para
indicar à lista final;
c) Estabelecer como critério para o corpus final
uma quantidade – onze livros literários – correspondendo às idades a quem
seriam destinados – crianças entre quatro e quatorze anos;
d) Compor a lista de onze obras a serem indicadas;
e) Escrita das conclusões.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Essa pesquisa surge com
a necessidade de discussão sobre a temática do feminismo, além de possibilitar
um apoio pedagógico aos estudantes e professores para que tenham consigo um
acervo literário que aborde essa temática. Com doze bolsistas de semestres
variados mais a presença da tutora, a discussão a respeito do que devia estar
inserido na lista foi ampla e apaixonada. Após tocas, argumentos, considerações
e disputas, a orientação criteriosa de livros adequados a crianças entre quatro
e quatorze anos foi preponderante para as sugestões. Assim, os onze títulos
selecionados e seus autores, organizados em ordem crescente de idade (4 aos 14
anos) são:
1) Maria vai com as outras, de Sylvia Orthof;
2) O cabelo de Lelê, de Valéria Belém;
3) Orie, de Lúcia Hiratsuka;
4) Teresinha e Gabriela, de Ruth Rocha;
5) Suriléa-mãe-monstrinha, de Lia Zats;
6) Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault;
7) Flora, de Bartolomeu Campos de Queirós;
8) Marieta Julieta Raimunda da Selva Amazônica da
Silva e Sousa, de Mariana Massarani;
9) 50 brasileiras incríveis para conhecer antes de
crescer, de Débora Thomé;
10) Pele de Asno, de Charles Perrault;
11) Eu Sou Malala, de Malala Yousafzai.
Por fim, indico como futuro da pesquisa um
seminário temático a fim de realizar o estudo e leitura das obras como suporte
a ações de leituras literárias nas escolas a estagiários e professores
interessados na temática. Como resultados, ainda, almejo divulgar o acervo em
eventos, no Blog do PET Educação (http://peteducacao.blogspot.com/) e torna-lo
disponível para leitura na SLEV - Sala de Leitura Erico Verissimo.
4. CONCLUSÕES: Ao realizar a pesquisa e formar a
lista com onze títulos, pude concluir que existem livros de qualidade literária
para serem lidos e problematizados. Nas obras selecionadas, temas como
autoestima, aceitação, crescimento, empoderamento, a mulher na sociedade,
violência contra a mulher, ser mulher profissional, histórias de mulheres, para
mulheres, assédio moral/emocional e direitos e feminismo aparecem sutil ou
abundantemente e, em alguns casos, desde o título. Os estudantes de Pedagogia e
os professores que já estão nas redes de ensino públicas e privadas relatam
grande dificuldade em encontrar um acervo para trabalhar com a temática do
feminismo. Por isso, a importância de se realizar uma pesquisa com esse foco.
Penso que um trabalho de análise possibilite a compreensão e exploração de
títulos literários e seus desdobramentos na escola, com as crianças. Acredito
que essa lista irá proporcionar auxilio e reflexão aos estudantes e
professores, além de possibilitar uma leitura prazerosa e rica para futuras
discussões. É importante ressaltar que os livros por si só já geram
problematizações. No entanto, é necessário que o leitor reflita e questione
durante sua prática de leitura para que assim haja uma interação e um diálogo
prazeroso. Creio que a pesquisa irá gerar um momento literário magnífico para o
leitor e seus ouvintes, pois a literatura é um instrumento, tanto para deleite,
quanto para reflexões de si e do outro.
REFERÊNCIAS
BEAUVOIR, Simone. O Segundo sexo: A experiência
vivida. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1967.
BELÉM, Valéria. O cabelo de Lelê. IBEP. 1ºed. São
Paulo, 2012.
Contos de Fadas: de Perrault, Grimm, Andersen &
outros. Apresentação: Ana Maria Machado; tradução Maria Luiza X. De A. Borges.
Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
CORSO, Diana Lichtenstein; CORSO, Mário. Fadas no
divã: psicanálise nas histórias infantis. Por
DÉBORA, Thomé. 50 brasileiras incríveis para
conhecer antes de crescer. 1ºed. Galera. Rio de Janeiro, 2017.
DESLANDES, Suely Ferreira. In: MINAYO, Maria
Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
GARCIA, Carla Cristina. Uma breve história do
feminismo. 1 ed. São Paulo: Claridade, 2011.
HIRATSUKA, Lúcia. Orie. 1 ed. Rio de Janeiro:
Pequena Zahar, 2014.
MASSARANI, Mariana. Marieta Julieta Raimunda da
Selva Amazônica da Silva e Souza. 2 ed. Rio de Janeiro: Manati, 2008.
ORTHOF, Sylvia. Maria vai com as outras. 21ª ed.
São Paulo: Ática, 2005.
QUEIRÓS, Bartolomeu campos de. Flora. Ilustrações:
Ellen Pestilli. 2 ed. São Paulo: Global, 2009.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Manifesto por um
Brasil Literário. Página Oficial. Acesso em 02/09/2019. Disponível em: http://www.brasilliterario.org.br/
ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras
histórias. Ilustrações: Adalberto Cornavaca. 2ª ed. São Paulo: Salamandra,
1999.
ROSA, Cristina Maria. Critérios de escolha e de
relevância de obras literárias infantis: um estudo. Alfabeto à Parte.
07 de Novembro de 2018. Acesso em 02/09/2019. Disponível em: https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/search?q=livros+para+aprender+a+ser+e+gostar+dos+outros
ROSA, Cristina Maria. Maus-tratos emocionais e
violência “benévola”: O que a literatura tem a nos dizer sobre o tema? Alfabeto
à Parte. 07 de Novembro de 2018. Acesso em 02/09/2019. Disponível em: https://crisalfabetoaparte.blogspot.com/search?q=literatura+e+maus+tratos
YOUSAFZAI, Malala. Como uma garota defendeu o
direito à educação e mudou o mundo. Tradução: Alessandra Esteche. 3º ed. São
Paulo, 2018.
ZATZ, Lia. Suriléa-mãe-monstrinha. Ilustrações: Eva
Furnari. São Paulo: Callis, 2005