Livros para bebês: criança pequena não pode ser subestimada!
Cristina Maria Rosa
A
categorização das obras que deram início ao acervo da SLEV – Sala de Leitura
Erico Verisisso – foi inspirada nos critérios
desenvolvidos por Fanny Abramovich (1989), Nelly Novaes Coelho (1993) e Maria
Betty Coelho Silva (1991). Para as autoras, a criança que se encontra na
primeira infância (entre zero e seis anos) é o potencial leitor, pré-leitor ou
leitor pré-escolar.
Para
Abramovich (1989), a literatura tem linguagem fluida e aborda os problemas de
modo discursivo. Assim, os critérios a serem adotados
quando da escolha de obras são:
a)
ter como princípio que a formação do leitor inicia pela audição de muitas
histórias;
b) escolher inicialmente histórias
curtas e bem humoradas, inteligentes, criativas, que surpreendem e investir na
escolha – intransferível e pessoal – de obras a serem lidas pelos leitores;
c) observar
de forma crítica como os personagens são representados nas ilustrações,
especialmente os pobres, as mulheres, os indígenas, japoneses e negros, as mães,
tias e professoras;
d) priorizar a
presença de humor, o deboche saudável, a ironia, o nonsense, a presença
de personagens nada comuns;
e) preferir
obras com presença da lógica da criança;
f)
inserir a poesia “boa, bem escrita, que mexe com a emoção, que nos aguça,
que nos deixa um pouco diferente depois de cada verso”;
g) propor obras que oferecem informação e verdade, pois “entender o
processo de como nascemos até quando morremos faz parte natural da curiosidade
da criança”;
h) ler integralmente os
“Contos de Fadas” pela abordagem do amor em todos os seus prismas: descoberta,
encanto, possibilidade, entrega, plenitude, sofrimento, angústia, injustiça,
tristeza, obstáculos, dúvidas, identidade, rejeição, perdas, esquecimentos, revelações
de sexualidade, da vida e da morte.
Para
Nelly Novaes Coelho (1993) a categoria leitora está vinculada a três fatores:
“idade cronológica, nível de amadurecimento biopsíquico-afetivo-intelectual e
grau ou nível de conhecimento/domínio do mecanismo da leitura”. Assim, indica
compor um acervo a partir da seguinte divisão: 1) pré-leitor (primeira infância
que inclui bebês dos 15/17 meses aos 3 anos e segunda infância, com crianças a
partir dos 2/3 anos); 2) Leitor iniciante ou crianças a partir dos 6/7 anos; 3)
Leitor em processo ou crianças a partir dos 8/9 anos; 4) leitor fluente ou
criança a partir dos 10/11 anos e 5) leitor crítico, já um pré-adolescente a partir
dos 12/13 anos.
Para
Maria Betty Coelho Silva (1991), devem ser respeitadas as peculiaridades e os
estágios emocionais das crianças na escolha dos livros. “Alimento da
imaginação”, as histórias precisam respeitar a “estrutura cerebral” infantil. A
autora faz um quadro demonstrativo de interesses, no qual divide os leitores em
pré-escolares e escolares. E divide os pré-escolares em duas fases: a pré-mágica
(crianças até três anos) e a mágica (crianças de três a seis anos). Aconselha
para os primeiros, histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da
natureza (humanizados), história de crianças. Para os demais, histórias de
repetição e acumulativas, além de histórias de fadas.
Os bebês e a leitura
Pouco estudados no século XX, esse grupo de leitores em formação (bebês em sua maioria não escolarizados) eram pouco visados pelas políticas públicas e pela indústria do livro. O comum é que editoras criavam brinquedos que imitavam livros como os de pano, de borracha, de plástico e outros materiais resistentes ao tato, ao gosto, à água, À falta de traquejo das mãos infantis.
Pouco estudados no século XX, esse grupo de leitores em formação (bebês em sua maioria não escolarizados) eram pouco visados pelas políticas públicas e pela indústria do livro. O comum é que editoras criavam brinquedos que imitavam livros como os de pano, de borracha, de plástico e outros materiais resistentes ao tato, ao gosto, à água, À falta de traquejo das mãos infantis.
Em
fins do século XX e início do XXI, a presença intensa de bebês nos berçários e escolas
infantis desencadeou estudos com o intuito de prescrever quais seriam os livros
que poderiam ser utilizados na alfabetização literária dessas crianças. Para Abramovich (1989), Coelho (1993) e Silva (1991), deveriam ser livros lidos por adultos
para as crianças, ilustrados, bem humorados, poéticos. E deveriam conter histórias sobre bichos, brinquedos, objetos, seres da
natureza, histórias de repetição e acumulativas. Obras com predomínio da
fantasia como contos de fadas, mitos, lendas e fábulas e atitudes como o desenvolvimento
da apreciação critica da leitura são recomendados. Pouco
texto, muita gravura, cor e, em alguns casos, sons também foram sugeridos e
apareceram no mercado. Livros de panos, livros-brinquedos e somente de imagens
aparecem com frequência nos catálogos de Editoras.
Alfabetização Literária
No processo de apresentação do mundo da leitura literária ao bebê, penso que a criança pequena não pode ser subestimada.
A leitura de livros pode ter início assim que ela ficar ereta, sentada no colo do adulto,
na cadeirinha ou no “bebê-conforto”. Para tal, o leitor (mãe, irmão mais velho,
professora, cuidadora) deve escolher um excelente texto que pode ou não ser
ilustrado. Defendo que, durante a leitura do texto escolhido, o som da voz e
os ritos da leitura (escolher, abrir folhear, indicar imagens, fechar, guardar)
são formadores desse leitor em potencial, tornando a leitura “de verdade” e não
apenas imitação ou distração.
E lembre: um livro não é um brinquedo: é o
artefato mais importante da cultura escrita e a leitura, seus atributos e
sentidos podem ser adquiridos desde tenra idade.
Para Debus
(2015), “a criança se constitui leitor bem antes de
dominar o código escrito” e, nesse processo “a interação com o professor e as
outras crianças do ambiente educacional é fundamental”. Assim, afirma a
pesquisadora, “a constituição do acervo da educação Infantil não deve se
restringir somente a livros-objetos, livros só de imagens ou livros com poucos
textos; além desses, é salutar que existam narrativas encantatórias, poemas e
textos mais longos, que muitas vezes não serão manuseados pelas crianças, mas
farão parte do seu repertório por intermédio do professor”.